Gauguin, Moana e Rereau
Uma história recorrente sobre os Mares do Sul trata de Paul Gauguin e sua sogra taitiana, uma entre as várias teve por aquelas bandas lindíssimas. O pintor se ocupava dia após dia retratar de forma dedicada as pessoas na até hoje colônia francesa.
As cores o encantavam, o tom da pele e a liberdade sexual. Nesse ponto os nativos daquelas ilhas estava anos luz adiante dos conservadores e pudicos senhores coloniais.
Ao procurar uma casota onde morar, houve certo constrangimento pois a bela taitiana companheira não gostara do local e convencionou-se a sogra mudar-se à escolhida. E Gauguin com a moça ficarem na casa da mãe dessa beldade.
A dita velhota, ao preparar sua mudança, plantou no caminho à varanda da nova residência, um belo exemplar de Bougainvillea, nossa costumeira “primavera”, nativa de lá.
Posteriores presentes dos ingleses para nós brasileiros, trouxeram e por cá deixaram a primavera, o cacau e a fruta-pão. Levaram a seringueira e o abacaxi...
Porém na demora da senhora em mudar-se, a rigor resistia pois acostumara-se à sua casinha, Gauguin resolver ir ele à nova morada mesmo. E por algum tempo tudo ia bem, apesar das ingerências em visitas da sograzinha no cotidiano da nova casa, denominava ostensivamente “la maison de ma fille”, de preferência na presença do grande pintor.
Certo dia, após a bebedeira costumeira dos sábados, o trôpego Paul sacou de um facão afiado e colocou abaixo a bela planta, gritando a desgraçada não dar flores mesmo...
Assustada com o ataque à plantinha, a velhota recolheu-se, não apareceu mais por lá.
Porém a filha, já um tanto chateada com o frances beberrão e namorador em excesso, vingou-se de forma curiosa. Gauguin plantara em um vasinho uma muda de cedro do Tahiti, Pinophyta pacifica. A muda não ia bem, sombreada demais. Certo dia ele pediu a Rereau, seu cozinheiro, deslocasse a planta para um lugar ao sol. Que fez de bom grado, porém isso não agradou à Moana, companheira, ainda lembrando do ataque à plantinha sua mãe trouxera.
Meses após, em recuperação e todos admirando o desenvolvimento, Moana pediu a Rereau colocar a planta em lugar insólito, ao lado da caixa de correio, na sombra escura. E Rereau, pouco dado a essas tarefas, nesse destrambelhado transbordo ainda matou a planta, arrancando todos novos brotos, dos meses de cuidado.
Moana antes viajara para ver sua mãe e o um tanto estúpido Rereau não sabia explicar aquela confusão toda, com a qual Paul se irritou profundamente.
Silenciou, voltou aos seus quadros e no retorno à França, comentou com Van Gogh sobre as plantas vítimas de inveja e ódio.
Inocentes, totalmente, claro.
Porém até os objetos sentem nossa ira, quem nunca deu uns tapas em sua antiga TV ou moderno PC?
Somos assim.