Traição consentida
Por Odnilag Amul (*), de Salvador.
O repertório popular tipifica os tipos de traição existentes na praça e nós todos ouvimos falar em muitos deles. Já disse outras vezes que uso o termo traição apenas pra facilitar nossa conversa, pois considero que ninguém tá traindo ninguém quando se está sendo feliz. E nós traímos a nós próprios quando não realizamos nossos generosos desejos por imaginar que outrem ficaria aborrecido com nossa felicidade. Recentemente assisti a um show de um forrozeiro potiguar, o simpático Dorgival Dantas, onde ele repetia que nunca devemos trocar um amor por uma paixão. Concordando em parte com ele, diria que ninguém deve largar uma paixão por causa de um amor e vice-versa.
Minha namorada sabe que eu sou assim, morre de ciúmes e diz que só me larga se me flagrar. Para ela o problema é ver, ficar sabendo não a incomoda. Faz sentido. Fazia todos os malabarismos possíveis para que ela não visse, pois não poderia perdê-la. Aquela não era uma mulher qualquer, comum, dessas que rolas voadoras captam com suas antenas parapornográficas. E eu digo a ela que jamais a largaria por motivo tão banal. E fico a imaginar como uma pessoa abandona seu amor apenas porque este amor passou por uma outra experiência amorosa. Algumas mulheres pensam que quando digo isso eu estaria as desprezando, as desvalorizando, mas num é isso não. Ao contrário, jamais vou deixar de amar uma mulher pelo simples fato dela ter dormido - ou melhor, ficado acordada - com outro predador. E vou mais longe, acho que um homem que não pensa assim, na verdade, não ama quem diz amar. Ora, se um concorrente faz a mulher que amo se sentir feliz, na verdade ele tá é me fazendo um favor, pois tudo que quero é ver meu amor feliz.
Essa divagação é pra relatar uma história que para muitos puritanos pode parecer um escândalo, mas para mim, apenas um fato corriqueiro. Quando começamos a namorar a moça tinha 19 anos e um noivo. Ela estava pronta para o altar, quando seguindo meus conselhos, fugiu da única guerra em que os inimigos dormem na mesma cama, e foi parar na minha. E numa cama dessas iniciamos um namoro que durou mais de 10 anos, até que ela fosse embora pra Inglaterra. A menina tinha um pensamento conservador quando me conheceu e com o decorrer do tempo foi ficando moderninha até chegar ao ponto do que vou contar mais adiante.
Nossos encontros eram agendados por ela de uma maneira surpreendente. A qualquer hora do dia ou da noite recebia ligações dela, que dizia: - Largue tudo que estás a fazer e venha me buscar imediatamente. Os desejos da criatura, que atendiam aos meus, eram sempre assim. Nunca marcávamos um encontro como os casais normais. E nós homens, na luta pela sobrevivência e por territórios, fazemos qualquer coisa para manter nossas amantes sob controle. E assim, durante muito tempo de minha vida, eu tive de mentir reiteradas vezes ao chefe para adentrar motéis da cidade. Muitos tios, avós, primos, "morreram" nas mentiras que inventava pra satisfazer os apetites sexuais de dois loucos apaixonados. Nossas preliminares começavam dentro do carro e muitos vezes fizemos amor gostoso em estacionamentos por não suportar a distância dos ninhos confortáveis. O desejo incontrolável por prazer controlava nossas vidas.
Mas ao contrário que vocês estão pensando, ela não largou o noivo. Não, a menina que desenvolveu uma forma espetacular da dança do acasalamento, acumulou os dois, e somente depois de uns cinco anos resolveu abandoná-lo ... temporariamente. Alegou que o rapaz num era muito eficiente naquilo que ela jurava eu fazer com perfeição. O problema foi que meu estoque de mentiras para o chefe se acumulava a ponto de minha filha e minha mãe serem "internadas" seguidas vezes na semana. Em meio a reunião tratando de assuntos sérios chegava a senha no celular: - É agora!. Venha correndo, rápido! Só em ler aquela mensagem sentia imediatamente o efeito estufa, o que me deixava exposto ao ridículo até chegar ao carro.
Bem, essa menina passou a vida inteira a me jurar amor e aquilo era absolutamente sincero. E eu sempre dizia que se ela quisesse experimentar outras relações teria minha concordância, pois não devemos exigir dos outros o que não cobramos de nós próprios. E ela argumentava que até poderia ser, mas que não tinha tesão por outros machos, era exclusivamente por mim. E assim fomos seguindo a vida, desbravando motéis, fazendo sexo em praias na noite, em árvores, em muros, fundos de igrejas, escadas de shopping, elevador de hotel, enfim, sexo era nossa diversão máxima, em lugares os mais distintos. Falar em elevador, trepamos uma vez num de um prédio de uma amiga dela quando saímos de uma festa. Após a conclusão dos trabalhos percebemos que tinha uma câmara gravando nossas estripulias. Até hoje não sabemos onde isso foi parar e tememos que a qualquer momento isso apareça em DVDs piratas vendidos nas praias e bares.
Cabe agora um registro importante: Adele se enquadra num caso raro, o que a torna mais especial - o de ter ORGAMOS MÚLTIPLOS. Enquanto a grande maioria das fêmeas, infelizmente, não encontre o prazer sexual e outras demorem até uma hora para alcançá-los, a moça goza entre oito e nove vezes em menos de dez minutos. Nunca me esqueço que em determinada vez, num motel, após os prazeres tradicionais, ela se virou pra mim e reclamou: - Poxa, nego, eu só gozei cinco vezes hoje. Além da sensação maravilhosa de a gente ver nossa parceira gozando seguidamente, nosso esforço é menor e mais gratificante. E se você acha isso pouco, adicione-se o fato raríssimo, uma em cada 100 milhões de mulheres, dela ter desenvolvido a habilidade de apertar o pênis do parceiro com a maciez peculiar do órgão reprodutor feminino - uma espécie extraordinária de massagem tão prazerosa tanto nas preliminares como depois do vulcão ter largado suas lavas. Meninos, só um homem agraciado por deus tem a sorte de ter em suas mãos uma mulher num só corpo reunindo esses dois espetaculares requisitos.
Como não só transávamos, mas também conversávamos, bem menos, é claro, sempre retomávamos o diálogo e reafirmava que ela poderia ficar com outros homens, no que a moça refugava. Ficava com a sensação de que quando ela "dormisse" com outro, ficaria ainda com mais tesão. Deve ser difícil pra você entender isso, mas eu nunca me submeti às convenções divinas e humanas da mesma forma que faço como vacas para a moral e os “bons costumes”. Num belo dia ela me diz ter um Zé Ruela acenando com gracejos e que poderia até rolar, pois o figura seria bonito, bem falante, enfim, poderia ser ele. Dei todos os estímulos para que aquele romance tomasse forma e ela tava se insinuando, mas um tanto insegura. Eles saíram pra jantar, foram a cinema, chegaram até a viajar, mas na hora, não rolava. Me relatou que depois de uma jantar à luz de velas ele a levou para o motel mais caro da cidade. Lá, vestidos, chegaram a trocar uns beijos e o indivíduo teve suas partes apalpadas, mas sem tocar diretamente naquela coisa dura e perigosa. Quando ela me contou isso, fiquei com um tesão tão forte, mas tão forte, que transamos durantes nove dias seguidos. Nunca tínhamos feito com tanta intensidade e nunca o prazer foi tão forte.
Ela chegou perto do que eu desejava e imaginava que o momento estaria próximo. E estava mesmo. Jantávamos num restaurante restaurando nossas energias gastas numa tarde de amor, quando um grande amigo meu desconhecido dela vem nos cumprimentar. Ney, assim que se aproximou, lançou um olhar penetrante sobre ela - e esse negócio de penetrar é sempre complicado e arriscoso. Sentou na nossa mesa e conversamos alegremente, ela rindo muito, e também lançando olhares penetrantes sobre ele. Como tanto olhar penetrante, isso, como você estar a pensar, só poderia terminar em penetração. Mas num é assim que funciona. Quando ela se levantou para ir ao sanitário, com um short que delineava suas belas coxas e seu fantástico par de nádegas, ele não desviou o olhar até que ela penetrasse o espaço.
Depois de fazermos amor gostoso novamente naquela noite ela diz: - Você percebeu aquele seu amigo me olhando de uma maneira diferente? - Sim, claro. E aí, ficarias com ele? - Eu fiquei molhadinha com os olhares que ele me dirigiu. Quando fui ao banheiro, foi pra me controlar um pouco. - Ele me pareceu um macho de primeira. Gostei muito da conversa, talvez com ele eu tente, acho que pode dar certo. – Está segura disso? - Eu ficaria com ele somente numa condição. - Qual? - Se você comunicá-lo que topo fazer amor com ele. – Que nada, eu lhe dou o número e você própria liga. - Não, só vou na condição de você dizer a ele que quer que ele coma sua namorada. - Mas nega... - Mas, nada, quero que você avise a ele amanhã mesmo. Aquilo foi me dando um tesão, mas tanto tesão, que transamos a noite, o dia, a tarde, a noite, e assim, sucessivamente. Nessa transa que entramos em transe ela gemia o tempo inteiro me chamando de Ney. - Vai Ney, põe Ney, tira Ney, ai Ney, como és gostoso, ai Ney, eu vou, vou, vou.... ai que deliiiiiícia Ney. Só quem vive um momento ímpar desses sabe o que é prazer e felicidade elevados ao inimaginável.
Olhe, o fato de eu achar que minhas namoradas podem transar com outros garanhões, não significa necessariamente que eu concorde em me submeter a situações que me constranjam, me deixem em desconforto. Ao mesmo tempo não podia negar aquele insólito pedido vindo de uma mulher, que como vocês já sabem, não era qualquer mulher. Quando eu dizia que não me importo de ela transar com outros machos eu fazia a ressalva: - só não pode me largar, fique com quem quiseres, me abandonar, nunca. Estava eu fazendo um jogo arriscado, pois vá lá que a fêmea se encante e eu acabe sobrando. Essa era o grande pesadelo que me atormentava.
Aqui eu vou abrir um parêntesis pra dizer que nós homens nunca devemos terminar com uma mulher. Namorado e namorada eu digo que é igual a emprego, a gente só larga um quando tiver um outro certo, mas o ideal mesmo é acumular os dois. Então, nunca terminei com minhas namoradas. Todas as minhas relações foram encerradas por elas e nenhuma aborrecida comigo. Todas que me largaram é porque procuraram o que elas chamam de “relacionamento mais sério”. O fato de essas relações se encerrarem com diplomacia me permitiu dezenas de vezes receber visitas delas novamente, estando casadas ou não. Por isso, nós machos, devemos sempre tratar bem o sexo oposto, pois mesmo nos abandonando, elas podem voltar em algum momento de carência. Algumas delas chegam a dizer que nossos encontros amorosos ajudam a fortalecer os casamentos a que estão submetidas, pois, dizem elas, sair da rotina vez em quando faz bem pra gente suportar o matrimônio. E assim, amigas, eu adoro ajudar a manter as famílias unidas, pois a família é o alicerce da sociedade, não devemos duvidar. E manter família unida a gente comendo a esposa do papaizão não é somente um gesto de generosidade, é um dever de qualquer cidadão TEMENTE a deus, que vai nos retribuir com paz e tranquilidade quando subirmos ao céu.
Ela ficou com tanta vontade de agarrar meu amigo, que cheguei a me preocupar em perdê-la. E depois de tanta insistência marquei o encontro. Foi num barzinho na orla de Salvador. Num é fácil iniciar uma conversa dessas, fiquei o tempo inteiro tratando de temas supérfluos esperando o momento adequado para fazer a abordagem. Depois de tanta abobrinha, e ele próprio querendo saber o porquê daquele chamado, decidi entrar no mérito. E foi assim: - Ney, vou ser direto contigo. Minha namorada que transar com você. - Oxente, cara, tá de brincadeira? - Não, tou falando sério? - Sim, ela viu você naquele dia, ficou muito atraída e pediu a mim para comunicar-lhe. - E como você fica nisso? - Eu não me importo. Na verdade, faz tempo que desejo que ela passe por uma experiência assim. - Como? - Isso, não me importo. - Você continuaria meu amigo? - Sim, mais amigo que nunca. - E como fazemos pra acontecer? - Bem, tome o número dela. Saiba que vais desfrutar da mulher mais gostosa que passou pela sua vida, mas aviso: ela é apaixonada por mim. Ficará contigo, provavelmente, apenas uma vez.
Encerrada aquela conversa, voltei pro apartamento. Relatei a ela o ocorrido, e assim, fizemos amor a madrugada inteira - os orgasmos múltiplos se multiplicaram exponencialmente. Logo pela manhã, quando estávamos enfiados um ao outro, dando a primeira do dia, o telefone dela toca e eu próprio atendo. "O safado é rápido no gatilho", pensei. - Alô, quero falar com Adele. - Quem deseja? - Sou Ney. - Rapaz, você é bem apressadinho, hein? E passei a ligação pra ela, que botou o fone no viva-voz. E ele: - Vamos marcar um almoço hoje? - Ela: - Não. - Não? - Não quero almoçar, quero ser almoçada, vamos economizar essa parte e ir direto ao que interessa.
Meninos, eram 18 horas quando eu participava de uma sonolenta reunião e chega o SMS. - Nego, foi maravilhoso, saia daí agora e venha me encontrar. E assim, fizemos amor mais gostoso de nossas vidas naquela noite, na madrugada, no outro dia de manhã, na tarde, na noite... Eu não quis saber os detalhes nem dela nem dele do que se passou naquela tarde de amor na cidade. Só sei que ele continuou a ligar pra ela que o respondeu assim um dia ao meu lado: - Rapaz, você já teve o que quis naquela tarde e nunca mais me terás, nem adianta implorar, pois eu amo meu nego. E ele está nesse exato momento se preparando para me comer, me comer bem gostoso, de uma forma que nunca conseguirás.
Depois desse episódio nosso amor cresceu ainda mais, ficamos mais felizes. Agora, quem ficou muito puto com tudo isso depois que descobriu o caso foi o marido dela. Lembra do noivo dela no início da história?
Pois é, eles se casaram.
(*) Odnilag Amul é cafetão no Pelourinho**
** E é também um grande gozador...
Hermó.
Mantida a forma coloquial original da escrita, a pedido.