O que não existe
O sexto sentido das mulheres é lenda, todos reconhecemos. Até as próprias.
Quando perguntam: "O que você tem?" , a bem da verdade já sabem, com as informações captadas de nosso estúpido olhar, o sempre explícito bom ou mau humor e correlatos comportamentos. Ou até ditos.
Portanto é aquilo a chamar redundância lexical feminina aparentemente incoerente.
Ao que os homens rotulam "lógica feminina", quando assim perguntam as criaturas (e elas na verdade já têm a resposta): certo imaginado, pelos homens, conjunto de regras femininas quebradoras da lógica disto mesmo: a própria lógica.
Ou seja, temas como "intuição feminina", "lógica da mulher" ou "sextos sentidos", no fundo, no fundo, não passam de imensa bobagem. Qualquer criatura com algum poder de observação, até inteligente quadrúpede doméstico, reconhece na simplicidade dos atos dos homens, nós, os tais masculinos, o que há conosco.
Somos raramente aptos a dissimular o de fato conosco ocorre. Alguns artistas conseguem, raros solteirões (quando a mãe ou namorada não assumem a tortura escravizante) e a maioria dos políticos também. Estes últimos citados não fazem parte daquilo comumente conhecido como o grupo dos homens, estando em outra inclassificada área do reino animal.
A própria sexualidade do macho não permite dissimular. Aos homens não é dado fingir o ato carnal. Ou vai ou nada. E madames sabem imediatamente o ocorrido, até antes do enlace. A elas é retribuitivamente simples; sem querer ser mal-educado, porém alguns gritinhos e revirada de olhos, mesmo aborrecida e em simultâneo pensando na fatura do cartão de crédito, faz o bobão relinchante achar-se o rei da cocada preta.
Isto mesmo: bobão.
Somos escravos destas criaturas, sem saber. Nos comandam com olhares, gestos e perfumes. Chantageiam com palavras, com emocionados relatos sobre filhos ou parentes. Maltratam sem notarmos, quando até o mais infiel dos infiéis machões repensa "sim, fui grande cachorro, eu sei...ó arrependimento..."
Trabalhamos o dia inteiro, pagamos as contas e nos dizem sem palavras: faça e faça mais, pois "os meninos precisam de roupas novas, mas vou dar jeito recosturando", "o carro está velho, mas agüentamos", "as férias, querido, as férias são importantes também, principalmente para si". Nos acorrentam com sonhos, trajes diminutos, expectativas babadas de retumbantes momentos de cálido amor para depois lembrar do rejunte nos azulejos do banheiro.
Há poucas frases mais inteligentes do que "atrás de cada grande homem uma grande mulher". Sem dúvida, nem há necessidade de grandes seres. Os modelos comuns sofrem dos mesmos sorrateiros percalços. Até o mega-idiota Adolf Hitler, a apoteose do charmar-se-ia completo imbecil masculino, solteirão casado com seu Vaterland , a pátria germânica, era discretamente comandado por Eva e seus pequenos desejos, sempre atendidos. Como visitá-la, ao invés de dedicar-se à estratégia de guerras ou louco extermínio dos povos. Deu no que deu.
Indo adiante, penso nos separados, os divorciados.
Isso não existe. Ex-esposas são como diamantes: são eternas, para sempre. A separação só se processa na mente do incauto, mas com armas, digo, filhos e demandas em punho manter-se-ão as gemas-diamantes ao lado do palerma. Pior, com nova ao lado o problema há de se duplicar.
Vejo amigos descabelando-se por horários com filhos, pensões a pagar, ciumeiras por novas parceiras e assim vai. Penso muitos não se separam, inconscientemente alertados poder ser pior do que o status quo.
Aos adolescentes masculinos o aviso aos navegantes: quando os primeiros comichões resplandecerem pelas pantalonas, acautelem-se mancebos!
Retardem, pois no dia qualquer delas sussurar "te amo" e você, feito um jumento desnorteado, jurar levá-la em jato reluzente conhecer as estrelas, estarão fechados os grilhões.
Semel insanavimus omnes*
* Todos pagamos, uma vez, nosso tributo à loucura.