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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Segredos e mentiras

Em algum canto recordo ter lido sobre pessoas sumirem durante o atentado terrorista em Noviiorque. Todavia desaparecidas por conveniência, a resolver questões sentimentais em duplicidade, fugir de alianças e sociedades inconvenientes, livrar-se de dívidas ou empregos chatos, golpear seguradoras e, por fim: exilar-se de amores não mais tão amores.

Todo o cenário daqueles prédios imensos virando pó, levou muitas pessoas aproveitarem a fumaça, esgueirarem-se para longe de imaginados problemas.

Assim como a maioria dos desaparecimentos por esse Brasil varonil são de maridos literalmente sem saída para assuntos de toda ordem, mormente financeiros; e jovens no fervor da burra adolescência, magoadíssimos com certo reles cala-a-boca dos pais. Ou pior, fugindo de parentes violentos.

Nesse cenário nativo, aproveitando momentos no estilo vou-buscar-cigarros, só-um-cineminha, ver-amigos..., desaparecem.

Um terceiro caso é a guerra.

Hoje quase 70 anos após o evento, mais uma vez, soube de fatos não terem ocorrido como antes convenientemente descritos. Casamentos que não eram, amores que não foram.

Certa parente, mãe de única filha nascida pelos idos de 1945, contava sempre triste história tão comum à época: o jovem marido, logo após o casamento, seguiu à batalha e não mais voltou.

Nesse caso bravo marinheiro, afogado em ataque a submarino no Mar Adriático.

Não foi bem assim, soube há pouco.

Retornou ileso, queria a esposa consigo, levou-a à cidade natal, onde trabalhava em loja de sapatos. Mas a jovem mãe e esposa odiou a região e também se apercebeu seu nobre guerreiro ser grande chato. Além disso, o casamento apenas no "religioso", sem maiores compromissos.

Lamentando-se com o avô, retornou ao lar materno. Sumiu com a bebê, nunca mais quis saber do pai de sua filha, casando com outro, arrumado pelo sempre compreensivo avô.

Para o vilarejo, e parentes, até os distantes em plagas tupiniquins, a história oficial era do marido "perdido em ação" e a pobre viuvinha casando novamente...

Divertido.

Outro senhor, em cenário semelhante naquele terrível evento idiota entre humanos, jovem prefeito de um vilarejo na Prússia, evacuou para a estrada que levava ao Ocidente e liberdade toda a família. Porém lembrou-se de "papéis", importantes, o prefeito precisaria resgatar. Voltou ao vilarejo, antes a alertar no estilo caso-eu-não-apareça, sigam viagem...

O aviso ficou claro; e ele sumiu...

Boatos diziam ele ir ao encontro do seu grande amor, noutra direção. Porém os familiares por anos sustentaram ter sido pego pelas "hordas vermelhas", os soviéticos.

Alguns, como meu avô materno foram menos, digamos, elegantes e teatrais. Sem mais tolerar a minha avó, sempre apaixonada por sujeito anterior ao marido, já terminada a guerra, via Cruz Vermelha enviou carta:

"F... , lamento escrever essa carta, porém sou franco. Por essas bandas aqui na Chescoslováquia encontrei finalmente um verdadeiro e sincero amor. Não retornarei à Alemanha. Cuide de nossa filhinha. A..."

Pois é, sumir. Para alguns opção.

São assim.

O bonito conto de fadas às vezes era mentira deslavada, de fugidos.

Comentários (clique para comentar)

Hermógenes - 12/11/2012 (15:11)

Noviiorque é termo cunhado por Paulo Francis em suas crônicas de lá. Já o "somos assim", me alertam é expressão usada por Nelson Rodrigues, em um seu conto/ crônica. Lamento não sabia. Mas não acredito se importem em eu usar as expressões, ambos.