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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O fim do achaque com voto obrigatório. Brasil e Venezuela, somos tão diferentes?

Diante do interessante aumento no contingente de brasileiros se recusam a votar, mesmo diante da chantagem oficial, a trocar o voto por concessões como documentos de viagem, fiquei a imaginar algo sobre as diferenças regionais e suas formas a moldarem comportamentos.

Como por exemplo Brasil e Venezuela.

Leio aqui no pleito de domingo, mesmo sendo o voto livre, 80,94% dos eleitores venezuelanos compareceram. Senso cívico? Tradição de eleições (na América Latina, penso é uma das democracias mais antigas, mesmo com os golpes ocorridos)? Obediência?

Complexo verificar.

Enquanto por lá o ato cívico faz parte do cotidiano, por aqui em vista da obrigatoriedade, torna-se algo a contestar. Peitar, como dizem.

De fato o direito ao voto, algo universal, por aqui e mais alguns pouquíssimos países é mais um dever, obrigação, coisa coagida. Vinculada à emissão de documentos necessários (nada de passaporte se não estiver em dia com a justiça eleitoral, por exemplo). Essa chantagem, já antiga, penso irrita o cidadão. E como não existe na grande maioria dos países, torna-se de fato algo cívico o ato de votar, como por exemplo na Venezuela. Impossibilitando nessas nações os nossos problemas com eleições:

A) Voto nulo (ninguém vai voluntariamente anular)
B)Em branco (pela mesma razão) e
C) Venda de voto, o cidadão sabendo de sua obrigação e da necessidade da compra pelo candidato, vende esse “direito” por aqui.

Nesse último caso por dinheiro mesmo, sandálias japonesas de borracha, camisetas e outras quinquilharias. O voto obrigatório é barato, o livre não tem preço.

Porém a consciência do achaque pelo chauvinismo político brasileiro, a obrigar ao ato, levou nessas eleições do domingo passado a taxas de ausência, votos brancos e nulos a superar nas grandes capitais as cotas dos melhores candidatos.

Em Salvador por ausência, branco ou voto nulo, 36% da população não participou do processo.

Nos EUA apenas 40% dos eleitores possíveis participam. Voto livre, claro. Mas isso não deslegitima o processo, respeita-se a vontade de grande parte não participar.

Não por aqui.

Se pudessem impedir o cidadão de viajar em dias de eleição, ou só fazer com complexas licenças, certamente os políticos lançariam mão disso.

Porém assim como percebem o método autoritário e antidemocrático de obrigar a votar está sendo lentamente corroído, não se aventuraram em mais restrições além da chantagem de praxe.

Dizem os chauvinistas que liberar o voto no Brasil esvaziaria as eleições. Pretensiosos, acredito eu. Somos tão diferentes dos venezuelanos? Dos indianos? Dos argentinos? Tão melhores ou piores?

Como somos?

Candidata-se quem goza de popularidade. Seriedade não é critério. Como aqui Celso Russomano, repórter, pelo visto engajado, na TV carnavalesca.

Apesar de ninguém obrigado ao voto como no Brasil, 80,94% comparecem para reeleger o caudilhesco Chavez.

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