O melhor emprego do mundo...
Hoje aqui pelo paralelo 12 Sul, próximo a Salvador, observei aquilo talvez classificar-se-ia como o melhor emprego do mundo.
Caseiro de retiro de praia, onde raramente alguém aparece.
Sem alguém a ordenar o cotidiano, a seu ritmo. Com muito à disposição, modestamente. Água boa e abundante, cocos à vontade. Luz elétrica, sempre agradável brisa. Calor, quase nunca, frio jamais. O lote a cuidar imenso, todavia há tempo. Quase 320 dias por ano, sem ninguém a azucrinar o juízo. Galinhas para os ovos, de tempos em tempos para o estômago. Escola para os filhos, modesta. Gratuita.
TV com boa recepção. Rádio e adoráveis música sertanejas, sem reclamantes para o volume robusto. Indumentária calção, camiseta e sandália de dedo.
Proventos: salário mínimo. Hoje dá para encarar, deixou de ser o pagamento-menstruação, a vir todo mês e durar apenas 5 dias. A bicicleta cuidada, ideal para a região toda plana. Pescar de vez em quando.
Sogro e sogra aparecem, bem recebidos descansam com os netos sob a imensa nogueira chapéu de sol.
O semblante sempre plácido, a fala respeitosa.
Preocupou-se tantinho com a chegada de dois residentes fixos, jovens em temporada sabática. Entretanto modernos, nada pedem. Pelo contrário, na máxima da não exploração do homem pelo homem, evitam.
A esposa com bom emprego, a renda dobra. Casa boa e seca, bons quartos, limpa.
Ao final do ano chega a tropa dos proprietários. Cada vez menos, netos adultos, tomam mais outros rumos. A santa paz reina, quase sempre, monótona.
Vejo-o a observar o imenso oceano à frente, a praia deserta, ao longe raro cargueiro arando o fluido verde-esmeralda. Poucos no planeta com essa oportunidade.
Imaginei se infeliz o sujeito por nada ler, quase nunca viajar, comida sem variantes divertidas. Se passarem 2 ou 3 pessoas por dia à frente sua morada, é muito.
É feliz, perguntei a ele. Nada mais quer, talvez economizar para a moto desejada, sem pressa.
Às vezes temos menos ou quase nada a reclamar, somos assim.
Escrevo como pequena homenagem ao meu mais jovem, escolheu o que chamar-se-ia talvez das mais cansativas profissões do mundo, do estudo à prática. O contraste é interessante, a pensar, menino, hoje em seu aniversário.