Bienvenidos en España
Estamos em 2008; e curiosamente seguindo o caminho da mais sórdida xenofobia, nosso inexplicável temor do diferente. De quem não fala nossa língua, não tem nossos costumes. Detonado todo o processo em tempos imemoriais, inegavelmente, porém, com nova veemência pelo ataque em Nova Iorque e a morte de 3.000 inocentes.
Vejo aqui propaganda de revista sobre turismo, edição setembro de 2007, onde o governo espanhol conclama-nos a “turistar” por lá: “Deixe-se levar pela Espanha”.
Apenas meses mais tarde estamos em franca dissonância, com retaliações “instrumentalizadas” com o couro dos inocentes. Desavisados turistas aqui e inocentes estudantes lá, barrados e deportados como “estrangeiros não desejados” ou “inadmitidos”. Os americanos rotulam estas pobres criaturas de “alienígenas ilegais”. Seres humanos sem legalidade... O que seria isso?
Portanto, Bienvenidos o cacete!
De qualquer sorte, estamos mundialmente nos odiando. Fechando as portas, pedindo por outros cantos não apareçamos, escorraçados, odiados, agredidos e presos. Seja na fronteira do México com a Gringolândia, seja na Espanha, etc. E este et cetera por gentileza assumam como bem amplo.
Nos EUA e Japão já pedem as digitais aos viajantes não residentes. Os europeus preparam a humilhação para 2009. De se pensar: porque não proíbem a viagem de vez? Ou só para pessoas com mais de 65 anos, essas menos potenciais ladras de empregos de terceira linha, como lixeiros e prostitutas? Possível é: a Coréia do Norte não permite a entrada de ninguém.
Para nós latino-americanos a questão é complexa, pois acreditem ou não, somos parte do sistema “europeu”. Falamos as línguas de lá (espanhol, inglês, português, holandês, francês), adotamos seus hábitos, vestes e esportes; temos seus sangue. Enfim: gerou-se espécie de gigantesco quintal sujo, onde transaram com as domésticas por anos e os rebentos concebidos, com suas caras, não podem ser mostrados, envergonhando as nobres famílias. Por algum tempo admitiam-se “cotas”, para o trabalho desqualificado, porém o ódio ao mestiço gringo-índio, diferente e igual, na primeira oportunidade mostrou-se fecundo. “Vão embora!”.
Até nossos menos agressivos colonizadores lusitanos, por anos após a independência amáveis conosco, hoje pedem de forma deselegante em claro português: “Não venham!”
Muitos precisam ir, é sua sobrevivência. A troca pela miséria menos miserável. Fruto do que aqui se implantou, com a colonização sem modos, cruel e depois, feita a meleca, entregue a quem não sabia como seguir. A procura pelo lugar ao sol, mesmo sendo “ilegal”, estrangeiro, cucaracha, spic e toda gama de maus nomes nos rotulam.
Vejo vídeo de “segurança” feito no metro de Madri, onde gratuitamente, por ser colombiana e mestiça, uma moça é agredida por jovem fascista, que chuta seu rosto, sem ao menos desligar o celular. Ninguém a defende. O rapaz anda solto, à espera de julgamento; talvez pegue seus dois anos de prisão, das espanholas, confortáveis. Daquelas onde se vai apenas en la noche...
Somos assim; agüentamos, até chutes na cara por um lugar ao sol.