Complexo de cocar?
Em tempos de globalização vejo alguns, penso, exageros. Soube em determinada localidade na China copiou-se aldeia alpina austríaca inteira. Além de serem os maiores consumidores de vinho francês fino. Mais que o próprios descendentes de Napoleão e de Gaulle...
Algo até a estranhar, pela cultura milenar daquela etnia.
Entretanto por aqui, nós latino-americanos e brasileiros à frente, caminhamos para algum exagero similar. Vejam só:
Por esses dias fui ao Instituto Tomie Ohtake em Sumpa, verificar o que de bom por lá mostravam. Sempre me surpreendia, mostras ultra-selecionadas. Prazerosas de verificar, como a bela exposição do material de Louise Bourgeois e suas aranhas imensas. Ou os bonitos desenhos de Akira Kurosawa, esquemas iniciais para suas obras cinematográficas. Porém quase sempre de fora.
Dessa vez eram os grafismos de Jasper Johns, americano. Bandeiras americanas estilizadas, mapas dos EUA idem. Vários.
Mais adiante outra mostra, um fotógrafo também americano: Paul Strand. Não é, com perdões aos admiradores, primeiríssima linha. E o formato apresentado, pequenas fotos em paredes imensas tira mais um tanto do admirável na obra do sujeito.
(Aqui certa crítica ao modo americano de ver os demais povos, como faz Strand, quase como curiosidade artística. Alguns a estudar em profundidade, assim fazem os brazilianistas. Permitem-se algumas exceções de admiração, como aos ingleses. Tanto acredito não haver nos EUA "britainologistas"...)
E a contrapor às mostras conjunto de obras premiadas pela EDP (Electricidade de Portugal), de jovens artistas brasileiros. Porém, talvez daí certo dualismo complexo na nossa gringofilia, eurofilia, conjunto de obras me arrasaram.
Horríveis, sem graça, sem leveza. Me lembrou mostras de escolinhas primárias "alternativas", chiquezinhas.
O primeiro prêmio penso alguma gozação do corpo de jurados, uma séria de rabiscos sem graça, bobos. Quase a consagrar a frase: pois é, coisa de brasileiro, né?.
Sai frustrado.
Olhei à volta, pensei: é assim mesmo, somo pós-coloniais. Nada a fazer, da língua aos hábitos, quase todos, importados, importados... quintal da Europa.
Mas penso lugares de mostras importantes como o Tomie poderiam ser mais condescendentes com os latino-americanos, os locais, os regionais. Sem nacionalismo, porém com menos complexo de cocar.