Envelhecendo?
Nos idos de 1973, certa colega de classe no último ano de escola havia ganhado do pai a calculadora dos sonhos, à época. Por sinal além da sofisticada calculadora, portava também belo traseiro, em apertadas calças, a desconcertar até o professor de matemática, um hoje, posso dizer, idiota terrorista.
A calculadora fazia todos os tipos de operação, normalmente tínhamos que consultar longas tabelas, quase nunca à mão. Com ela, passe de mágica, era apertar de botões. Estávamos no ciclo mais "científico", onde a escola procurava preparar o vestibular para as áreas técnicas.
Passado o vestibular e aprovado, apesar do abandono de cursinho e qualquer estudo em casa, fui batalhando o caminho da engenharia.
Admirava o trabalho do pai e seus cálculos, desenhos, máquinas feitas, pequeno fabricante na periferia de Sumpa era. E com o passar dos anos na faculdade, sempre muito consciente de despesas, ao informar precisaria de um ou outro livro e manual, sugeria usar os dele, em alemão (sem maiores problemas, pois os adotados por aqui eram em sua maioria traduções daquele idioma, em vista do sistema métrico reinante).
Livros amarelados, edições ele mesmo já havia comprado usadas nos anos 1940 e 1950. Ao contrário da eletrônica, na mecânica o passo evolutivo da essência, os tais Elementos de Máquinas, pouco se acelera com o tempo. Os invólucros a que chamam design talvez. Mas o miolo, a alma e o coração de um Studebaker 1955 é mais simples, porém não tão diferente de algo produzido por esses dias.
Se os leitores em dia de aeroporto, principalmente os mais velhos, observarem aviões Boeing, verão que a "carinha" é a mesma, desde 1960. Do Jumbo 747, o mais moderninho, de 1969.
A velocidade anda igual, o alcance, a altura voada a mesma. Só o aperto hoje é maior e o serviço de bordo bem pior...
Apesar da resistência do pai a eu comprar a calculadora essencial encantado com a maquineta, e insistir com tabelas e réguas de cálculo, venci a batalha com a corrupta mãe (todas são!)
Todavia mantive a mesma por todo tempo de faculdade, somente após a morte do meu pai, em desconcertante momento libertador, a comemorar o nascimento da minha primeira filha, 1983, aventurei-me em comprar o que havia de mais sofisticado à época, para azeitar os cálculos por aqui havia de fazer.
Porém hoje, quase 30 anos após, é a mesma máquina. Os livros os mesmos.
Seria tempo de renovação?
Ou como o velho estou ficando conservador, daqueles que preferem o sextante ao GPS, jurar automóvel sem direção hidráulica ser bom para os braços?
Fotografia química melhor que digital?... Pois é:
Somos assim. Ou pelo menos: eu sou assim.