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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O que é ética?

A resposta é relativamente simples: seguir determinados parâmetros em vida nos afastam da exposição ao constrangimento. Por exemplo: pode existir criminoso que assalta porém jamais assassina. Ou matadores profissionais, muito comum no Nordeste, preferem morrer a alguém conseguir saber por quem foram contratados. Terrível, mas é sua ética.

O que não é ético? Mais simples ainda a resposta: não seguir esses parâmetros.

Vamos a um exemplo: meu sogro contava caso que ao descansar em sua rede, deixou o relógio ao lado. Alguém se aproximou e o levou. Ele viu quem foi. Porém jamais revelou o autor. Muito se especulou porque assim fez. Afinal um furto deve ser denunciado, ele como advogado sabia. Levou o segredo para a cova. Ventilo tenha sido um irmão dele, meio destrambelhado do juízo, chegado a surrupiar objetos o interessavam. Eu mesmo fui vítima, porém aconselhado pelo doutor ignorar o assunto, em vista da perdoável deficiência do sujeito. A ética jamais permitiria a ele essa denúncia, constrangendo a si e ao irmão. Nenhum relógio valeria expor-se; ou aos seus.

Na verdade, em ética era verdadeiro campeão. Nunca advogou contra trabalhadores humildes, mesmo esses tivessem feito coisas inadmissíveis ou ilegais. Não transgrediu a regra.

Muitas vezes indo à fábrica com meu pai, percebia ele me policiava para eu não deixar as mãos nos bolsos. Seu conceito de ética dizia: jamais passar por um trabalhador com as mãos nos bolsos, pode parecer arrogante superioridade. Algo como: vocês têm que trabalhar com as mãos, eu o filho do diretor posso deixá-las descansando nos bolsos...

Prostitutas não beijam. Fazem de tudo, mas o sacrossanto local não expõem ao prazer do outro. É sua ética.

Porém todos os fatores de conduta levantados pelos pensadores, como ética, moral e probidade, nós humanos também aprendemos a torcê-los, reposicioná-los e reinterpretá-los. E colocar em choque sua aplicabilidade.

Nesses dias Márcio Thomaz Bastos é o advogado do bicheiro Cachoeira. É ético?

Há duas interpretações possíveis: seria ético pelo lado do comprometimento profissional como advogado, a defender qualquer um, livrando-o da condenação ou lutando por uma pena menor. Algo como o médico de Adolf Hitler, Dr. Morell, jamais deixou de atender o maluco assassino, mesmo sabendo levava toda nação ao caos. Seu juramento hipocrático o impedia negligenciar pacientes; e salvar vidas. Qualquer vida.

Porém no caso Bastos, também pode ser interpretado como pouco ético, defender com todo o poder de um ex-ministro da justiça e super-advogado, grande amigo de membros do supremo tribunal e do ex-presidente Lula, esse personagem sinistro com seus senadores, deputados e governadores no bolso. Provavelmente a pedido do ex-presidente, imaginando com esse caso mais exposto nos meios de divulgação, esquecer-se o público do tal "mensalão", a propina paga pelo seu governo a congressistas como meio de azeitar a governabilidade.

E esse talvez o grande problema com a ética.

Ela não existe em política. Se alguém citar algum político vivo plenamente ético em nossos conceitos atuais, está enganado. Não há tal criatura, talvez nem seja possível na triste faina corruptiva dessa infeliz (para os governados) atividade.

Ao tornar-se o político ético (é raro), transforma-se em ex-político...

Bastos e "Cachoeira". A relação é complexa. Seria ética?

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