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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Gostamos de uma boa história

Hoje fui maldoso, à mesa do almoço.

Observei minha sogra (sempre somos maldosos, nós homens, com as sogras...), percebi enfado na conversa generalizada. Concentrou-se em seu prato, sorria de tempos em tempos. Porém a troca de palavras dos demais em si não a interessava.

Sou porém entendido em fofocas. Adoro, cultuo, divago e distribuo, gratuitamente. Ao contrário dos jornais, onde pagamos pelas ditas. E sogras, com fofocas, são presa fácil...

Contei caso de amigo casado com senhora Deus Poderoso errou na fórmula. Vibórica, arrogante e estúpida. Juntos por muitos anos, com filhos, certo dia apaixonou-se o amigo por outra criatura, dispensou a ultra-chata e, dizem, hoje é homem feliz, mas pouco vejo.

Tanto ele quanto a ex-esposa provenientes de famílias abastadas. O ex-sogro do sujeito um verdadeiro peso-pesado, mas de low-profile, como os ingleses denominam homens muito poderosos, porém discretos.

Este senhor, agora já pelas bandas do inferno, imagino, após terrível acidente onde perde o irmão, resolve fazer aquilo horroriza a todas as mulheres: detonar o casamento conscientemente, sem medo de retaliações ou mágoas. Despede-se da esposa, casa-se com outra, depois outra e por fim outra. Por volta de seus 70 anos ainda tem ímpetos para conquistar em uma de suas muitas propriedades rurais a filha da cozinheira, de 18 anos. Essa, grávida, após a passagem do velho, torna-se também herdeira.

Baita confusão, dir-se-ia antigamente. Brigas, a questão rola até hoje, assim a informação. Muitos netos, sobrinhos, amantes não o eram de fato, testes de DNA, advogados lambendo os beiços, propriedades invadidas, ameaças de morte e por aí vai.

Desse caldo a grande dramaturgia brasileira, apesar de um pouco desprezada, faz as novelas, certamente produto de classe, exportável.

À medida expunha às outras senhoras sentadas à mesa o caso, a sogra deixou de lado a indiferença, e como acompanhando sua novela preferida, de boca aberta, observava cada palavra eu proferia sobre o assunto. Até diminuí o ritmo, para ela apreciar melhor, sem intervalos comerciais, o caso nefasto do senhor sogro do amigo, quase Henrique VIII brazuca, sem violência nesse caso.

Quando encerrei, o olhar da sogra me lembrou eu criança e minha mãe contanto a mim histórias dos Irmãos Grimm e de certo tubarão, essa de sua própria autoria. Enquanto cozinhava.

Se interrompia para cortar ou verter algo da panela, ficávamos minha irmã e eu desesperados, para não perder algo da história.

E sempre pedindo mais.

O olhar de hoje da sogrinha provavelmente o mesmo de nós crianças àquela época.

Gostamos de boas fofocas, histórias, casos.

Somos assim.

1 Os irmãos Grimm, grandes contadores de histórias.

Comentários (clique para comentar)

- 21/05/2012 (18:05)

Gostei. Ainda mais sabendo que sua sogra conhece tantas historias de tantas famílias...e suas historias parecem prender muito a atenção a ponto de deixar D. Angelia de boca aberta. Bjs Bia