Old Grog...
Nosso drinque maior, agora com projeção internacional, é sem dúvida a caipirinha de pinga. Por essa internet surgiram milhares de histórias, a maioria fantasiosas, sobre a origem da bebida. A simples combinação de açúcar, limão, gelo e cachaça.
Incluindo-se o termo cachaça, como algo também complexo na origem, sem definição exata.
De qualquer sorte, a mistura pinga/rum com água, açúcar e limão pode ser verificada na história. E, apesar da latinidade do assunto, mormente latino-americano, a origem é um pouco, mais uma vez, distinta do concebido por quem inventa a história, a moldar-se, no estilo de 1984, àquilo governos ou grandes grupos econômicos desejam.
Assim como por aqui forçamos os fatos a curvarem-se perante assuntos nem mais discutidos em outras instâncias, por exemplo citando Santos Dumont como inventor do avião, a caipirinha acaba sendo originária do interior de São Paulo, a combater brejeiramente os resfriados.
Assim como em Cuba o mojito ser algo absolutamente autêntico e local. E na África ex-lusitana, o grogue assim o fazer.
Pelo norte da Europa, nos dias de frio e vento, toma-se um grog, quente. Os nórdicos denominam grog qualquer mistura de aguardente com refrigerantes ou sucos, por exemplo. A ponto denominar-se o bêbado, por lá e por cá, de grog.
A palavra mais próxima desses termos, seria grogram, um tecido combinado de seda, algodão e látex, do qual era feito o casaco do almirante inglês Edward Vernon.
Apesar de ter sido o responsável em parte pela maior derrota naval inglesa, a batalha de Cartagena na atual Colômbia, onde 26.000 ingleses e americanos foram derrotados por apenas 6.000 espanhóis (associado o evento a forte epidemia de febre amarela), Vernon introduziu alguns hábitos interessantes e saudáveis na marinharia do império.
Água era transportada em barris nos navios ingleses e após poucos dias, mal-cuidada como é a atual água de São Paulo/Sabesp com seus horroroso gosto de terra, desenvolvia boa quantidade de micro-algas e conseqüente péssimo sabor.
Diariamente os marinheiros britânicos e coloniais americanos recebiam certa ração de cerveja, porém com o advento das destilarias de rum pelo Caribe, e o menor volume a transportar para o mesmo efeito do fermentado, introduziu-se a ração diária de rum (mantida até 1970!).
Porém diluído o rum com água. Assim ao invés de beberem somente a fétida água transportada, adicionava-se o rum. E para combater o forte gosto do rum, adicionava-se limão ou lima, por ordem do almirante.
Apesar dele não ter conhecimento sobre a causa, as tripulações sob comando desse sujeito mostravam-se saudáveis nas longas travessias. Só mais adiante associou-se o uso de sucos cítricos com o combate ao escorbuto, a carência de vitamina C.
E como o açúcar de cana caribenho e brasileiro tornou-se farto e barato, acrescentava-se a esse composto de rum, limão e água algum açúcar, a melhorar mais ainda o sabor.
O que basicamente é o mojito (pequeno molho, em tradução livre, pois a hortelã fazia parte de temperos no passado, lá por Cuba). Do grogue africano (suco de limão, rum ou cachaça, açúcar, limão e canela), do grog alemão: rum, água quente, suco de limão e açúcar com canela).
Apesar de fortemente negado, rum e cachaça são parentes bem próximos. E misturar certa cachaça com limão e açúcar não deve ter sido coisa específica de caipiras paulistas, como se induz. A combater a gripe, assim a história...
O almirante Vernon, como escrevi, usava nas noites frias um velho casaco de seda, algodão e látex cru... de grogram. Seu apelido entre os marinheiros era Old Grogram, depois Old Grog pelo péssimo estado do casaco. E adepto da ração de rum ele mesmo, assim como responsável pela sua difusão e ajuda na saúde da turma, o termo virou denominação da própria bebida.
Por aqui, caipirinha. Todavia em essência bem similar, porém mais intensa.
Talvez saudável, dizem.
Quem diria, assim como o futebol, a origem da caipirinha é inglêsa...