São Pedro e São Miguel
Depois de tanto chover, o espírito clamou por um pouco de liberdade. A casa se tornou pequena, desejei sair, após assistir o quase divertido Habemus papam, do Nanni Moretti. Quase divertido por ser boa a idéia, entretanto ficou insôsso o enredo com o jogo de volei entre cardeais, além do papa eleito um tanto abobalhado em excesso, imagino a coisa poderia ter sido melhor desenvolvida pelo roteirista.
Mas quem sou eu para criticar...
Fui conhecer a capela de São Miguel Arcanjo no distante bairro com o mesmo nome, na zona leste da feiosa Sumpa, minha cidade.
É tarefa árdua, em dia de São Pedro castigando a metrópole. A longa rua, passando pela Penha é um incessante pára e anda.
Mas por fim cheguei, decepcionado não haver uma brechazinha para estacionar. Fiquei rodando a bonita praça e a reconstruída capela, infelizmente fechada hoje, fotografando com a direita, dirigindo com a esquerda. Tantinho irresponsável, admito. Porém era o intuito, por que não?
E com a chuva apertando, por um caminho obscuro cheguei à via Dutra e retornei ao lar. Em dia de águas, ainda o melhor lugar, ameçando estava o caudaloso Tietê, mais uma vez, encharcar as vias marginais. Novela de uns bons 45 anos, sem fim à vista.
A capela é linda, bem conservada e protegida. Imagino era o caminho das tropas de burros seguiam entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Em cada morrote, protegendo-se das enchentes dos rios nos vales, os vilarejos com suas capelas. Penha de França, São Miguel e por aí vai.
Paradas para descanso e um pouco de alento espiritual, a benção dos santos nas igrejinhas a imaginar-se o viajante daqueles tempos melhor protegido da já presente violência, a pedra fundamental da nossa civilização brazuca.
Parado em um posto para abastecer, procurei o sanitário. As portas furtadas, o vaso quebrado e derrubado ao solo. Fiz por cima, lembrei no passado serem quase todos assim. Acelerei, o local cheirava a assaltos.
Por fim, um tantinho de emoção, ao passar pelo ainda não desmontado circuito da fórmula Indy ao lado do parque Anhembi (não me perguntem denominarem parque). Senti-me o próprio Al Unser, se alguém ainda recorda do grande piloto.
E ao chegar em casa, observar o curioso trabalho bem-humorado de simpáticos funcionários da prefeitura, serrando uma imensa sibipiruna tombada pelo vento e chuva, seguramente árvore de seus 60 anos.
Com seus gestos de vitória e cumprimentos, molhados, os sujeitos pediam colocar-se as fotos para que o “povo veja a gente trabalha mesmo”.
Nunca tive dúvidas, quem não se interessa muito pelo labor são os caciques, isso sabemos.
Concluindo, fim de semana chuvoso em Sumpa, meio deprimente.