Habemus phaseolus vulgaris!
Não sou homem crente nas histórias da origem da feijoada, como contadas.
Algo de restos de matança do porco dados aos escravos, coziam com o desprestigiado feijão preto (phaseolus vulgaris) e de tão gostoso virou prato nacional, admitia bom até o feitor ou patrão.
Estrume bovino, diriam os eruditos de Princeton. Não conheço nenhum, por isso atrevo-me dar-lhes o crédito da mais popular e inteligente expressão americana.
O cozido de favas ou feijões, com o nome de feijoada e suas partes do sacrifício de porcos, parece ser coisa anterior ao descobrimento do nosso país. (Nosso? Fico em dúvida, a quem de fato pertence essa porção de terra, me parece mais coisa de poucas construtoras e políticos...).
Ou seja, talvez até anterior à civilização árabe na península luso-espanhola, coisa trazida pelos romanos via Portus Calle, um porto romano-lusitano (onde hoje é a cidade de mesma denominação), origem do nome da garbosa nação, nossos colonizadores de então.
Há cozidos dessa estirpe em vários países e regiões, um certo feito nos Açores em panelas descidas às quentes areias de semi-extinto vulcão.
Os escravos por aqui raramente recebiam proteínas a comer, sua dieta era composta de feijões, abóboras, farinhas, mandioca, rapadura, café, água e pinga, essa para muitas vezes cobrir com melhora de ânimo a tristeza pela condição, banzo ou a própria fome.
De qualquer sorte criou-se a arte e tradição da feijoada brasileira. Sou corajoso em dizer: quem afirmar sabe fazer, não sabe. É o prato da cozinheira silenciosa (só mulheres têm o dom, feijoada de homens é horrível, percebe-se na hora), que não espera elogios ou os seus comensais deliciarem-se com os bobos adereços, como caldinhos à parte, molhinhos inúteis, farofas de polvilho, bacon inglês frito e demais firulas.
Os pratos esvaziados e as gamelas com tristes restos são seu trunfo e alegria.
Por essa nação existem variantes, porém a se fixou ser a feijoada preta, com pé de porco, orelha, rabo, lingüiça portuguêsa, carne seca, alho, cebola e amor.
Acompanha arroz branco, solto. Couve picada cozida, longamente, quase a virar pasta. Laranja, pimenta, farinha e costeletas fritas.
Abre-se o evento com boa pinga e o resto desce com cerveja.
Todos condenam, entristecem após, os médicos só balançam a cabeça pelo crime fisiológico cometido. Morte adiantada: feijoada, álcool, açúcar e cigarros são primos carnais da figura de panos negros, sem rosto com a ceifante alfange.
Todavia insistimos, somos assim.
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