Uma viagem a Bahia.
Das melhores coisas o serviço público nos trouxe em muitos anos de atuação por esse imenso país, é sem dúvida a carga literária produzida de seus nobres membros.
Desde Guimarães Rosa, apesar de médico atuando no serviço diplomático, Carlos Drummond em alguma repartição carioca a Rui Barbosa como deputado, senador, ministro e diplomata. Ou, mais atual, José Sarney, polêmico ex-presidente, ministro, deputado, governador, senador, representante menos provecto dos meios públicos, menos reconhecido como escritor, entretanto mesmo assim membro da prestigiada Academia Brasileira de Letras.
Homens e mulheres de intelectualidade indubitável, expoentes da nossa herança cultural múltipla, desde os primórdios romanos na península d´Espanha aos novos imigrantes do século XX. Pessoas com o brilho de um Vinicius de Moraes, também diplomata.
Dentre a nova cepa, Osvaldo Augusto Teixeira. Amigo, distante parente, nessa ordem.
Em seu zelo e dedicação como funcionário da Receita Federal, nos tempos livres permitiu-se a formidável versão do livro Streifzüge in der Provinz Bahia, traduz-se como Excursões na Província da Bahia, Edição da Secretaria de Cultura da Bahia e Fundação Pedro Calmon, 2011.
O autor Julius Naeher, um engenheiro alemão a visitar a Bahia do século XIX, por volta de 1878. Nos tempos de escravos e escravas, mucamas, violência generalizada contra o negro, grandes plantações de cana, cacau, viagens de trem em estradas construídas pelos ingleses, o senhor alemão, curiosamente também proveniente do serviço público de seu país, engenheiro inspetor de obras no grão-ducado de Baden, nos brinda com interessante descrição da época, com detalhes.
Por obra do destino, sua cunhada casou-se com um baiano, Pedro Bandeira da aristocracia açucareira.
Com férias de 4 meses junto ao grão-ducado, o engenheiro Julius parte em 1878 para conhecer as terras dos parentes brasileiros.
A magnífica tradução da epopéia de Julius e seu travar de conhecimentos com a realidade brasileira de então, é louvável e sem dúvida um trabalho digno do mais alto reconhecimento, naquilo tange pesquisa, seleção, procura e excelente redação.
A todos uma obra indispensável, interessados no Brasil de antão, todavia não tão distante em sua realidade dos dias de hoje.
Porém a obra complementar Uma viagem à Bahia da segunda metade do século XIX, de redação única de Osvaldo, quase 400 páginas de acríbicas informações coletadas por ele mundo afora, é a mais impressiona. Algo provavelmente demandou anos de pesquisa, trabalho primoroso. Das indicações no livro de 200 páginas de Naeher, pinçou detalhes, pesquisou-os. Quase artesanato, tal a dedicação à arte da História verificada com afinco. Fez disso outro livro, maior.
Não me canso de enfatizar, apenas graças ao serviço público brasileiro, temos a possibilidade de contemplarmo-nos com obras dessa envergadura, de Grande Sertão, Veredas passando por Marimbondos de Fogo, da poesia de Drummond à lírica de Vinicius de Moraes, e a apreciações históricas, como as presentes comentadas, grande trabalho de Osvaldo Augusto Teixeira.
Em suma, parabéns.