Engenheiros...
No caderno Ilustrada da Folha de hoje leio uma rotunda crítica de Ricardo Bonalume ao livro Febre do Panamá de Matthew Parker, Editora Record, 2012, tradução de Carlos Duarte e Anna Duarte.
Bate e assopra o crítico, “problemas não tiram interesse em livro sobre o Canal do Panamá”... Vá lá, talvez. Foi a detalhes de micro-cirurgia redatora, descobrindo sub-tópicos (dignos de engenharia), sobre a qualidade da tradução.
Porém antes ofendeu, ah se ofendeu.
Fiquei destrambelhado de raiva quando o sabido detona:
Vamos deixar claro: engenheiros com raras exceções, não são os seres humanos mais interessantes quando se trata de contar uma história.
Por aqui algumas opções de interpretação para tal balangandã inútil ter dito:
a) Não terminou o curso de engenharia e passou para outra praia, mais simplória tipo Comunicações ou Publicidade (se é para ofender, vamos lá!), carregando a frustração do “não consegui”.
b) Algum energúmeno em cargo público, utilizando da engenharia para passar em concurso, negou-lhe algo por burocracias. Ficou azul de raiva, colocou o destempero contra todos os da classe, com as espetadas.
c) O pai foi ou é engenheiro; e quando o filho optou por algo mais “cabeça”, esse comentou “ai, ai” e nada mais disse. Típico dos engenheiros de poucas histórias... e o ai-ai não sai da cabeça de um filho jamais...
Diria Muhamad Cassius Clay Ali : Whatever.... Podem procurar, ele disse isso...
De fato a engenharia perde o glamour, sempre, quando comparada aos temas ninguém 1) entende mesmo, como sobre a Física e sua mágica (Einstein o diga; e as 50 pessoas no planeta sacaram aquilo descobriu). Ou 2) aqueles todos acham entendem, como de Freud e a Psicanálise ou Hegel e a Filosofia de senhores e servos.
Na engenharia cala-se a boca. A de fato, dos números, cálculos, experimentos e produção de itens de conforto, não opinamos, nem saberíamos como. Só usufruímos da desprezada arte, voando ou apertando o botão do forno de microondas, todavia quem criou são "desinteressantes". E do que não entendemos tendemos a meter o pau...
Em terra brasilis, onde até hoje abonimamos a profissão principalmente fora do eixo Rio-São Paulo, enaltecendo o médico e o advogado nessa ordem, a engenharia ainda sofre a adicional discriminação por alguns exemplos criticados de conduta.
Do eng. Maluf pedindo estuprar entretanto não matar, ou do eng. Covas a trocar tapas com professores em greve. Sem esquecer do eng. Kassab e do quase engenheiro Serra, tristes casos atuais. Porém figuras interessantes.
A hipocrisia de muitas profissões tem poucas chances na engenharia de fato. Dizem médicos enterrarem os seus enganos, jornalistas se retratarem ou falarem de fontes confidenciais, atores adoecerem, padres afirmarem Ele determinou. Porém o engenheiro de fato, com seus cálculos e sua obra com problemas, é alvo fácil quando a ponte cai ou o carro apresenta problemas. Figuras desinteressantes, a atenção passa aos objetos criados. Admira-se um Porsche, nada sabemos de quem o criou...
Talvez dest´arte o perfil discreto da maioria, excetuados alguns renomados pela história como Eiffel na ultra-grandiosidade das obras ou Norman Mailer (era engenheiro aeronáutico, quem diria...), até parece sabia contar histórias.
Os grandes engenheiros sem seu glamour pouco ou nunca são lembrados e solenemente esquecidos.
Minimamente se fala do engenheiro honorário (nunca foi à academia) Ferdinand Porsche, criador do fusquinha nos anos 1930. Ninguém lembra do time de engenheiros brasileiros desacreditados tiraram a Embraer dos sonhos. Ou quem planejou a parte técnica dos sistemas hidráulico-energéticos que alimentam 80% dos domicílios brasileiros, o maior do planeta. Não esquecendo do desinteressante eng. Roberto Rodrigues e sua adorável coluna de "histórias" no mesmo jornal.
Não os conhecemos, poucos são mencionados, a maioria morre anônima de reconhecimento.
Infelizmente da engenharia os “bons” casos de "histórias" ou que possam ser motivo de aclamação ficaram na triste faina da política e corrupção, porém ainda superados em muito nesse detalhe pelos advogados, campeões absolutos. Admira-se o despudor de um Sarney porém jamais procuramos saber quem inventou a turbina do avião seguramente o leva a Brasília... O eng. Whittle morreu quase esquecido, a batalha para fazer o engenho funcionar mais interessante que as tramóias em um congresso corrupto.
Para encerrar, não esquecermos nosso curiosamente maior contador de histórias, Euclides da Cunha, aclamado, em paralelo ocupava-se de umas bobagenzinhas:
Era engenheiro civil, construía pontes e estradas...
Somos assim, nós engenheiros, desinteressantes.