Evitando os dias de fúria...
Ando irritado, coisa da idade? Dos tempos? Pouco sei disso, entretanto gostaria de melhorar esse meu aspecto comportamental nefasto, obscuro, podre. Me policio, procuro atender àquilo alguém concederia como correto. Cordialidade, respeito, companheirismo, doçura, paciência.
Não vai. Está difícil.
Observei isso em mim mesmo, com pesadas doses de algum controle, ao embarcar em Salvador para retorno à terrinha. Ato 1, cena 1: ar condicionado central do aeroporto (e suas taxas de embarque) quebrado. Vidros imundos. Em meio à sala de embarque, a novidade: o estande de vendas de acarajés... Quase niguém compra, a razão é óbvia. Não é o local nem o cheiro desejado para empurrar esse acepipe.
Ato 1, cena 2: Na espera pelo vôo a observar praticamente nenhum deles sair do portão anunciado no papelzinho do embarque. Como gado as pessoas são movimentadas de um lado a outro. “Devido ao reposicionamento da aeronave o embarque passa ao portão...”.
Seguem muitos atos e cenas. Ao contrário da falsa tranquilidade do Hermó, a maioria das pessoas aparentemente sossegadas, acomodadas à confusão? Ou melhor: com bom controle. A irritar-se o cidadão ou a cidadã muito pela marido trair ou o estouro do cartão da esposa. Todavia aeroporto ruim, ora, somos brasileiros, tão acostumados a isso...
Decolagem para Sumpa, no horário. A empresa batalha por isso, um rico empresário brasileiro com sua empresa aérea colombiana se esmera, mesmo. Entretanto a luta se defaz, ele perde pesado no choque com a administração pública brasileira. Com o aeroporto de Guarulhos fechado por 15 minutos em vista de forte chuva, toda a "malha" aérea brasileira entra em colapso. Aviões rodando à frente de Santos, esperando. Por meia hora (a chuva era de 15 minutos).
Enfim liberado para pouso, abortado todavia na reta final por emergência de outra aeronave quase sem combustível. Segue a Campinas, já em pré-pane seca, também por minguante essencial querosene, alerta o tranqüilo (e bom ator) comandante.
Aos desejosos de desembarcar e seguir por outros meios, nada. Não há infraestrutura para nem ao menos levar quem assim desejar ao saguão, a companhia não opera por lá. Sem escada, sem ônibus.
Após hora e meia para abastecimento e preenchimento novo plano de vôo, Campinas – Guarulhos, a decolagem. Previsão do vôo, 10 minutos com tolerância para 20. Foi desviado por um controle aéreo pelo visto pouco prático ou perdido com a chuva, e seus 8 aviões para pouso, a rodar portanto por mais uma hora sobre Bragança Paulista, a 50 km de Guarulhos.
Enfim pouso.
Alívio? Não, o já desanimado comandante informa não haver local para estacionar. Aguarda-se mais um tanto, e lá está o desejado estacionamento.
Nesse turno da espera não há escadas disponíveis. Outros 30 minutos. Finalmente no solo firme e ar livre, porém não há ônibus a levar ao terminal. Por baixo das asas do avião, espera-se no maior aeroporto do país.
Resumindo, Salvador- São Paulo, saguão a saguão: 8 horas.
Percebi alguns passageiros se mostravam mais silenciosos, certamente pensativos sobre a bagunça ser a administração pública brasileira, de aeroportos a hospitais, de tribunais a delegacias. Nada funciona a contento.
Todos em casa ou seus quartos de hotel, seguramente lembraram-se do curioso filme “Um dia de fúria” com Michael Douglas. Interessante ao começo, idiotice moralista ao final.
Porém a primeira parte é o desejo encruado sempre negado de muitos... haja autocontrole.
Em tempo, os 4 quilômetros a me separarem de casa, hoje após o almoço percorri em 47 minutos, algum semáforo queimado, comum por aqui... Pois é, somos assim, vamos nos controlando.