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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

De Neviges a Ipiaú.

Tenho algum fascínio por igrejas.

Não me perguntem a razão, conscientemente não a deduzo. Talvez algo ligado com o confuso passado dos pais e sua negação a qualquer prática religiosa, com, de fato, perceptível desprezo ao tema.

Compreensível.

Mas a arquitetura religiosa me fascina, os milhares gastos em obras de certa ponderável, digamos, inutilidade. São como gravatas, muitos usam, assim como outros tantos vão a igrejas, templos, mesquitas, sinagogas, centro de umbanda. Todavia não há, excetuada talvez alguma questão da moda, verdadeira utilidade nas gravatas.

Haveria nas igrejas?

Curiosamente me encanto com as mais antigas. Com aquelas talvez fossem antes templos a outros deuses. Algumas até mesquitas eram. Porém as novas, e a criatividade dos arquitetos, também muito aprecio.

Penso tudo começou em 1974, quando perto de Essen na Alemanha, amigo de meu pai mostrou a nova igreja de Neviges, catedral de adoração, em vista da aparição em local próximo, da Santa Maria, o Mariendom, construído em 1968 sob a literal regência do arquiteto Gottfried Böhm.

Fixou-se na imagem de grande tenda e moldou o pensado em concreto. Assusta.

A parte interna, se me recordo bem, sem bancos e com simples altares, um tanto escura, à época deixou-me confusa impressão. Mas jamais a esqueci, espero um dia voltar ao local.

Ainda pela Alemanha a catedral evangélica de Braunschweig, para onde me arrastava minha avó lá morava, templo com seu poderoso órgão e coral de jovens era envolvente. E mais adiante, a apoteose àquela época para o fedelho: a catedral de Colônia. O cume do gótico, escura, amedrontadora.

Conheci outras, grandes e pequenas, em viagem recente a maior de todas: a basílica de São Pedro em Roma. O superlativo reina, a tal “força” do Todo-Poderoso em blocos de granito, estátuas descomunais e trabalhos em pedra parecendo entes vivos, impressiona. Crente ou não nos temas, o trabalho desprendido para tal é mistério. Os valores gastos inimagináveis.

Por esses dias viajei à distante cidade de Ipiaú na Bahia. Não resisti e fui conhecer com mais detalhes suas igrejas, esse marcante fetiche meu. À matriz, São Roque. Modesta, bem cuidada. Recebido pelo padre, cujo nome me fugiu envergonhadamente, de forma quase efusiva insistiu eu tudo fotografasse.

Em outro dia conheci a igreja de São José Operário, no bairro Euclides Neto, projetada pela filha de quem dá nome ao distrito, minha companheira. Por razões de furtos, permanece fechada fora dos horários de missas. Porém a secretária da sacristia, adorável senhora, me permitiu o acesso para eu conhecer em detalhes o moderno projeto. Cujo Leitmotiv era a modéstia no uso dos materiais, a fazer algo sólido com os menores custos.

Executado com brilhantismo pela arquiteta.

1 Em forma de tenda, em maciço concreto (penso o arquiteto deixou-se influenciar mais pela imaginada proteção de um bunker que de leve tenda) o Domo Mariano de Neviges é uma lembrança inesquecível.

2 A singeleza do arranjo de altar na comunidade de São Roque em Ipiaú, contrasta com a modéstia da igreja.

3 A arquiteta trabalhou intensamente com a composição da luz natural no interior da igreja São José Operário. Com os mais resistentes porém econômicos materiais. Concreto, telhas simples e vidro transparente comum. O resultado é surpreendente.

4 Pouco uso de madeira, muita pedra comum na região, telhas simples, vidro e concreto barato. A comunidade foi atendida em seu desejo por uma boa igreja. A anterior no local era um caramanchão aberto, com telhado de palha, perigoso até.

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