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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Ainda os atos falhos...

Confesso os adoro, a cada dia mais e mais. Deliciosos, potentes, capciosos, irreverentes. Nosso linguajar inconsciente revela um tantinho de nós. Desnuda-nos, ainda bem.

Mestre Freud o diga, baseou toda sua ciência em filtrar as Fehlleistungen, como denominava. Em uma ou outra frase, às vezes apenas palavra, destrinchava e apontava aquilo poderia detonar certo alívio, a dita Einsicht.

Coleto-os incluindo os próprios, freqüentes. Quando os identifico.

Envergonho-me quando terceiros os apontam, nesse caso sinto-me como sem calças na multidão. Todavia faz parte.

Somos assim.

Por esses dias quatro jovens amigas seguiram à Amazônia, depois embrenhar-se-iam pela Venezuela. Passaportes necessários, uma delas ao invés do papel azul de viagem levou sua carteira de trabalho...

Apesar de também azul, mostrou talvez ínfima parcela de preocupação com emprego desejado, ainda não conseguido? Ou causado pelo comentário infeliz de algum pai ou mãe a citar, terminado o longo curso universitário, melhor preocupar-se com bom e seguro emprego e não aventuras na selva?

Fica para os experts decifrarem e ajudarem a amiga.

Minha companheira comprou de Natal coletânea em DVD sobre a vida do primeiro líder sindical da História, um rebelado gladiador da velha Roma. Entregue ao presenteado, esse deixou o mimo esquecido em um canto, desinteressado. O pai tem o mesmo nome do sindicalista, a relação é um pouco conturbada, preferiu inconscientemente não se aprofundar no tema da origem do nome.

É justo.

Eu mesmo ao embarcar para essa adorada Bahia, entreguei ambos os e-tickets, ida e retorno à moçoila da companhia área. E somente por aqui me lembrei necessitaria dos dados inscritos no papelzinho do retorno para tal.

Diria o leigo como eu: Não quer voltar, não é?

Tempos atrás escrevi livreto (Vocal Vazio, 2004, Littera Editores) coletando de declarações em jornais, o discurso vazio mormente da classe política. Sempre recheado de atos falhos, como por exemplo a frase de Kennedy:

“Não pergunte o que a América pode fazer por você, mas o que você pode fazer pela América!”.

Apesar do impacto da frase e seu posterior prestígio, se analisarmos é apenas certo nada; com letras.

A América não faz nada por ninguém, nunca fez. É invenção política, travestida de bobo patriotismo, coisa de governo a garantir seu quinhão. E pedir ao simples cidadão fazer algo por ela, é sapiência política, nada mais.

Porém o ato falho vai adiante, quando o jovem Kennedy se exclui, pois seria melhor ter dito: ... o que nós podemos fazer pela América.

Enfim, ele sabia, inconscientemente pouco poder fazer. Talvez nem quisesse, sabendo da realidade dos fatos.

Kennedy, em ato falho se exclui do discurso.

Comentários (clique para comentar)

Hermo - 04/01/2012 (19:01)

Amigo, em qualquer sebo pode ser encontrado, basta colocar no Google. Em livrarias não se encontra mais.

- 04/01/2012 (16:01)

Hermo, em que loja (que não seja online) posso comprar o livro Vocal Vazio? Vi no google que ele tem uma versão digital, porém nunca sentaria na frente de um computador para ler um livro.