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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

O colunista e sua curiosa opinião

Leio em coluna de camarada experiente, com renome, em a Folha de São Paulo, de forma diferente analisar a crise da Europa, como algo ligado ao não gastar; certo excesso de poupança. E não relacionado às absurdas expensas do estado, mormente consigo.

É uma opinião realmente discrepante; o articulista afirma ser algo como culpa da população e governos não gastarem o suficiente. E com isso gerar menos formas das administrações investirem em questões de infra-estrutura e sociais.

E, claro, defesa, previdência, saúde. Com educação, também.

Mas lá como cá, essa última é a última prioridade.

Nada entendo disso, a formação de engenheiro tem esse inconveniente: trabalha-se com fatos passados e medidos, não com suposições futuras ou conjecturas. Nem temos o privilégio de, acontecido algo não previsto, declararmos: ah, não disse?

Assim fazem alguns economistas. Nenhum deles previu a zorra da molecada insatisfeita no Norte da África. Todavia hoje todos deixam claro que, "era perfeitamente previsível"... Uma ova, com perdões aos senhores entendidos.

Assim como a CIA não tinha a menor idéia havia certa movimentação para o estúpido ataque aos prédios WTC em Nova Iorque.

Mas estourada a bomba na Europa, com Portugal, Irlanda, Espanha, Grécia e Itália sem crédito e com perspectivas zero de crescimento (ou sem qualquer investimento *), vou tomar a liberdade de repudiar a diferente afirmação do antigo colunista.

São os gastos de estado, do funcionalismo com suas absurdas previdências e privilégios, de outros privilégios à academia pública e oficial com professores ultra-bem-pagos e menos aos pequenos mestres da escola comum, dos gastos exorbitantes com inúteis serviços diplomáticos, viagens mil, bolsas oficiais e o infernal e inútil aparato militar, com incursões sem nexo (excetuado para os fabricantes de armas e seu lobby) como no Afeganistão.

Nesses meus dias pela Itália, onde por coincidência Signore Berlusconi (aquele que fofamente denominou a senhora Merkel de "bunduda incomível", atiçando perversos pensamentos na população masculina) pedia a conta (é simples, dizem até logo e fim do problema), tive uma pequena visão como é possível chegar a endividar o estado com 120% do produto interno bruto.

Havia centenas de carros oficiais com luzes azuis e homens enternados, indo e vindo. Todos eram Audis ou Mercedes, A-6 ou classe E, muitas viaturas, acima: A-8 ou classe S.

As motos dos policiais e carabineiros, todas BMW acima de 1.000 cilindradas, novíssimas. Furgões Land Rover, blindados em várias esquinas.

Em meio ao corre-corre todo, tranquilamente ao som de alegre música marcial, certa troca de guarda (para que serve isso?).

Uniformes impecáveis, rifles padrão OTAN, reluzentes. Instrumentos musicais brilhando, bandeirolas. A proteger os milicos desfilantes, mais policiais comuns, cujos carros modestos são potentes Alfa-Romeos, uma pequena concessão à produção italiana.

Políticos e policiais sempre andam ou permanecem em pencas, como caranguejos na feira de Acari. No primeiro caso, a profusão de ternos Armani, brilhantinas, relógios Bulgari e cuidadosas barbas mal-feitas reunidas era impressionante. Os policiais com coletes americanos, rádios franceses, botas brilhantes e suas Berettas, outra exceção ao imenso arsenal de porcarias caras importadas do norte europeu ou EUA, a enfeitar a turma oficial.

Estima-se que na Itália rodem em torno de 8.000.000.000 de dólares em veículos oficiais, policiais ou militares!

Oito bilhões, turma.

São 160.000 veículos com valor médio de 50.000 US$, incluíndo o luxo ou o equipamento adicionado.

Individualmente não é muito, mas já imaginaram se andassem com modestos Fiats Pulga, o quanto sobraria?

O estado é aquilo o ser humano inventou de mais caro. São rios de grana gastos na maior parte em privilégios, salários aviltados, previdências oficiais gordas ou inutilidades.

Não se abre mão dos privilégios, antes quebra o sistema a alguém no estado dizer "vamos segurar".

E por aqui seguimos pelo mesmo caminho, Lula tendo dado a partida com seu jato caríssimo. Uma partida simbólica, porém bem compreendida pelos seguidores. Por isso juízes de salários iniciais com 21.000 reais estão em greve por mais... ministros do supremo só voam de "first class", policiais rodoviários pedem e recebem Toyotas Hilux, jatinhos para a Polícia Federal e por aí vai.

O estado é caro, não existe nada mais caro que ele, prezado colunista.

Não culpe o modesto trabalhador milanês ou pastor siciliano por não gastar seus poupados. Nem nossa matutada trabalhadora aqui, ainda menos esclarecida.

Não têm culpa, são assim.

* A prova é certo representante da empresica onde trabalho, lá na Península Ibérica em 6 meses nos alegrou com uma única consulta... infrutífera.

O país quebrado, os juros no telhado, sem crescimento ou investimento: mas marcha-se ao som das cornetas. Alguém paga isso...

Top of the line, potente e com êne equipamentos adicionados. US$ 50.000 por peça, estimo. São 8 bilhões de dólares em carros oficiais, em território equivalente ao Paraná, talvez?

Blindados, havia centenas. US$ 120.000 cada um, com certeza. Para o estado não há limites... para o cidadão? Aperte-se o cinto, compadre.

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