Enfim férias!
Iniciadas as férias, podiam enfim ficar pela casa. Agradável morada em um dos melhores bairros da cidade. Pássaros cantarolando na bela tarde ensolarada de novembro. Pela cozinha o som da discreta panela de pressão avisando dos acepipes ao jantar; da sala o distante e suave lamento da enceradeira, no comando da simpática doméstica.
Moça de fino trato, sempre amável e carinhosa com os pequenos.
O irmãozinho, com seus 5 anos. Vigorosa, a voz segura de um futuro líder. Essas coisas despontam cedo.
A irmãzinha com talvez 3 anos e a voz um tanto mais fina, porém também de cunho decidido. Todavia com o timbre do lamento, a grande arma feminina, a amolecer os insistentes.
A brincaderia, próxima de bonita piscina, tecnicamente a ser dividida entre os irmãozinhos, o andar em triciclo à sua volta. Desses modernos, com motorzinho.
E os pássaros cantando, época de sabiás reproduzirem, um cansado bem-te-vi gritando do alto de um pé de pitanga. A aragem morna, a superfície da piscina ondula.
A doméstica pergunta à distância, " Ainda brincando meninos? Sua mamãe está chegando!".
Sim brincando, brincadeira moderna. Aprendida com o meio.
Antigamente era coisa de capa e espada, fadas, caubóis. As crianças se adaptam, há mais informação.
O menino aproxima-se da irmã montada sobre o triciclo e fazendo pose de galã, aprendida na TV ultraviolenta em um de seus 200 canais, detona:
"Sai da minha moto, sua puta! Ou eu te mato, vaca!".
Influenciados sempre pelo que vemos e ouvimos, somos assim.
Até as crianças.