Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Folha Xoxota

Avançadíssimo nesse domingo, o matutino Folha de São Paulo lançou verdadeiro ataque ao que as Senhoras de Santana (ainda existem ou existiram algum dia?) chamariam de "moral e bons costumes". O jornal realmente cheirava a xoxota!

Na primeira página, curioso show quase circense: ao invés das mulheres barbadas, ou Monga a Mulher Macaco, um exército de senhoras alemãs, como amazonas de seios estirpados. Cruel a questão da natureza e o câncer de seios, forte a imagem. Porém as alemãs não mostravam somente seu infortúnio acima da linha do umbigo, mas tambem peludas pererecas, quase a declamar "yes we can", parodiando Barack Obama.

Mais adiante no caderno intelectualizado Ilustríssima, um belo óleo, com peluda intimidade do século XIX, pertencente ao psicanalista Jacques Lacan, que o cobria com outros e somente em sessões especiais mostrava o quadro, me parece de título "O começo de tudo", aos amigos.

Não li o artigo, a xereca literalmente me olhando, constrangiu-me.

No final do dia, pensei nas razões por tantos anos levam a nós humanos cobrir as partes pudentas. A maioria ainda o faz, eu inclusive.

Sem moralismo, não sou disso. Pensei que o amor, a atração íntima entre duas pessoas remete as barreiras do pudor ao imperceptível. A nudez e a consequente atratividade do outro tornam-se parte de certa conjunção, muitas vezes lastreadas naquilo chamamos amor, o inexplicável carinho que devotamos a outro ser. Não queremos compartilhar esse momentos, censuramos quem o deseja, nos bisbilhota, como o doente voyeur.

O quadro pertencente a Lacan pode ter sido algo pintor no distante século XIX fez da amada, para si, ou quiçá de prostituta, indiferente ao assunto, pela dureza da vida.

Tanto uma como a outra jamais imaginariam por volta de 250.000 leitores em cidade latino-americana perscrutarem sua intimidade no século XXI.

Talvez não se alegrassem com isso.

Ou talvez sim, é misterioso. Somos assim.

Normalmente somos cuidadosos com a beleza, não a descrevemos pictoricamente em todos os detalhes, devassando aquilo que instintivamente nos constrange. A arte procura dar certa dignidade ao tema. Desde os antigos.

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