Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Teto-solar...

Das lembranças indeléveis quando pequeno, certa bem marcante foi passeio de Volkswagen ao zoológico de São Paulo. Com a mãe de meninos vizinhos ao volante, todos holandêses: Katarina e os dois pequenos Paul e Andre. Onde morávamos, na distante zona norte da cidade, havia alguns refúgios em ruas de terra, com ar de roça, por onde os gringos entre eles meus pais, se aninhavam, com alguma tranquilidade no pós-guerra, após os pesados anos na Europa.

Nesse dia, a senhora do alto de seus talvez 30 anos nos enfiou a todos no novíssimo fusca e eu, o inquieto, me ordenou ficasse na tal piscininha, pequeno espaço entre o vidro traseiro e o encosto do banco próximo.

Nem seria necessário, pois meu fascínio com o pequeno bólido era completo.

Fiquei absolutamente encantado e quieto à medida o carrinho seguia pela cidade até o parque da Água Funda, nas fortes mãos da tal mamãe dos Países Baixos. Seguramente mulher de seus 90 quilos, mas não desproporcional.

Com uns vestidões coloridos e o famoso sovaco não raspado, não era hábito.

Falava em holandês comigo; entendia um pouco pois assemelhava-se a um tal de "baixo alemão", que havia conhecido em uma viagem para as terras da vovó. A origem das línguas daquelas regiões me parece comum, alemães aprendem holandês e inglês com alguma facilidade, todos holandêses falam alemão (mas nem todos admitem...), já os ingleses recusam-se a aprender outras línguas.

Mas voltando ao fusquinha, o fascínio era completo, por mais uma razão.

Após alguns metros rodados, a senhora girou uma alavanca no teto e como por milagre um pedaço do teto se abriu, e via-se a cidade, prédios e céu. O tal "teto-solar", como fui conhecer a denominação, muitos anos depois.

Por esses dias atuais escolhi, apesar de alguma resistência passada com a marca, novamente um Volkswagen como automóvel. Não é um fusca, não mais existe.

Até um tanto frustrante quando soube não ser coisa de cá, o objeto já havia navegado meio planeta para aqui chegar.

Porém com o tal teto-solar, hoje um sistema sofisticado, elétrico, com vidro e tampa complementar.

E, rindo feito uma criança, com um dia bonito, abri o danado até o final e fui passeando pela cidade, voltando aos meus 7 anos.

Quase bato o carro, olhando pelo teto-solar ao invés de verificar o trânsito à frente.

Mas, de tempos em tempos, temos que nos deslocar até a infância. Faz bem.

Somos assim.

1 O famoso fusquinha com teto solar, ainda objeto de adoração de muitos de minha geração e das próximas.

2 Também Volkswagen, mas un muchacho mais confortável. Coisas do pós meia-idade, fazer o que...

Comentários (clique para comentar)

Dão - 15/08/2011 (16:08)

Cuidado ao parar nos faróis ao lado de algum "bumba" ou debaixo de alguma árvore. Podes ganhar uns brindes vindo da janela do ilústre motorista ou de alguma pomba distraida.....rsrsrsrs