Fidelito, mi hijo...
Algo grave aconteceu com o velho ditador, talvez um cancro de intestino a corroer-lhe as entranhas. A inevitabilidade do destino, diriam os fatalistas. Apenas um ser humano, suscetível às moléstias como todos os demais, os realistas. Um grande líder, os comunistas... Não importa.
A boataria de séculos atrás informava que Isaac Newton, aquele da lei da gravitação universal, ao observar a queda de uma maçã e chegar ao brilhante postulado, verificou outro fato insólito, a tornar-se provérbio:
"Uma maçã não cai distante do tronco da macieira".
Se Fidel é maçã, seu pai foi o tronco. O progenitor, imigrante galego, era rico fazendeiro em Cuba, produtor da óbvia cana-de-açúcar. Evidentemente o jovenzito acompanhou a lide diária naquele empreendimento, a hazienda. Sua produção, sua forma de mantê-la e seus lucros, que permitiram ao rapazote uma vida de algum conforto, estudando em bons colégios cubanos. E navegar por sonhos de uma propriedade gigantesca, onde à imagem do pai, seria regente único, talvez secundado por obedientes parentes.
Realizou-se o sonho, tarefa cumprida em 1959.
Maldosamente percebe-se que, de forma similar ao pai, mantém o comando sobre a propriedade, nesta caso a ilha inteira, sua imensa estancia, com seus lacaios e trabalhadores, informando ao mundo ser notável experiência socialista, mas sob comando e tutela dele, forte estanciero, sempre com a última palavra. Nos momentos mais difíceis, recentes, em sua doença, Fidel passa o comando ao irmão, na forma hierárquica comum em instâncias onde não há socialismo, democracia ou sabemos lá que forma de regime.
Utilizou-se dos laços familiares, seguros e conhecidos, como fazem reis e também imigrantes da Galícia...
A maçã perto da macieira. Em estilo, em forma e gênero. Fidel lutou pela ilha, liberou-a da corrupção e opressão americana mas, depois, apesar de toda carga marxista estudada, deixou-se levar pelos sentimentos paternos, únicos e humildes. Transfomou-a, a ilha, em sua grande fazenda onde reina só, com um irmão fiel mas desprovido de maiores ímpetos.
É especulação desautorizada e talvez fantasiosa, porém no momento que Camilo Cinfuegos desaparece e Ernesto Guevara é enviado para exportar a revolução, estes talvez menos didáticos mas bem mais ativos nos reais conceitos revolucionários, é de se verificar a transformação da revolução cubana em ato de tomada de propriedade, passando do ingênuo sargento Batista ao advogado Ruiz, em comum a ambos a noção forte da ilha como de seu domínio, incontestável. Com o detalhe de Batista, como Hitler, ter sido eleito...santa ironia.
A concluir-se que, ao agora velho ditador, no fundo, no fundo, foi determinante o conceito de propriedade, de forma mui abrangente, pelo pai galego. A quem isto era de primária importância, comum ao imigrante a fazer a América, saído do paupérrimo norte da Espanha à época.
Enfim, deixou e ainda deixa claro ao mundo que é "su isla" , apoiado por um esquadrão de admiradores fiéis, um tanto desatualizados dos conceitos mais amplos de regência de nações com alguma democracia, como acontece por aí afora. Um coronelismo caribenho, já com seguidores, como Chavez et caterva. Este com uma hazienda maior boiando sobre uma lagoa de petróleo, mas incontestavelmente sua, como deixa claro ao notificar que deseja ser "reeleito" quantas vezes possível.
Neste ponto, nossa maçã Lula, de pai pouco afeito à lealdade familiar e conjugal , assim à propriedade, mostra-se mais liberal, como o genitor foi. Vê o país como grande família de origem humilíssima, com todos seus defeitos e muitas virtudes, porém sem verificar linha mestra a tirar-nos da eterna lama latino-americana, governando de forma vai-que-vai, ajudando aos milhões de parentes desafortunados com algum assistêncialismo e privilegiando aos muitos amigos que o mantém na casa...
Em suma, e concluindo: Fidel Castro não passou de mais um branco, violento, caudilho latino-americano. Metido ao social, ao justo, ao povo no fundo apenas mostrou-se coronel, regendo com o medo e ameças; algum raro privilégio de perfilar-se nas Nações Unidos e como o inimigo número 1 dos gringos.
O texto acima, enviado a certo liberal "site" sobre questões deste continente, foi vetado, censurado. Dizia-se que a iconização de Fidel era um fato, seu arrojos nas reformas sociais incomparáveis, seus desafios aos fortes imensos, a impor respeito. Acima de críticas.
Talvez, mas para um bobo pacifista como eu, todos aqueles que tomam de armas para qualquer ensejo, seja de natureza política, policial ou criminal, são essencialmente covardes e desprezíveis. Da pior espécie.
Dos Gabeiras e sequestros "justificados", das Dilmas e "assaltos necessários", de Ernestos Guevaras e "julgamentos sumários incontestáveis" com fuzilamentos, a Pinochets com "sumiços", Videlas e Galtieries mandando crianças à guerra, Medicis e Geisels enforcando jornalistas inocentes, Fleurys matando sem julgamentos, Erasmos Dias batendo em estudantes desarmados, Tiro Fijo com seus capangas colombianos sequestrando e toda corja, que precisou de armas para se mostrar ou tentar mostrar-se, hoje, probos, tanto senhoras e senhores, só posso arrotar meu desrespeito.
Neste ponto, Lula, Kirchner e Cristina, Bachelet e outros, sempre desarmados e não violentos, mostram-se os vencedores.
A era dos estancieros de revólveres pelas bandas dos umbigos pode ter acabado.
Esperemos.