Confortável; insatisfeitos?
Curiosamente na empresa onde ganho meus cobres jamais vejo um pedido de demissão, excetuados os inconstantes porém raros jovens na produção, a trocar o tedioso cotidiano fabril pela talvez aventura emocionante do motoboyismo ou venda de cachorros-quentes.
Entretanto na área administrativa recordo apenas de quatro casos, de muitos anos atrás.
Relativamente jovens, engenheiros e dois projetistas aventuraram-se por outras plagas, com sucesso. Um deles hoje renomado head hunter *, o outro empresário de médio porte na área da engenharia de instalações; os projetista retornaram a empregos anteriores, com melhores propostas.
Isso não significa a empresa ser boa, talvez apenas confortável. Ninguém a elogia ou se diz um batalhador de sua causa, o que seria até cínico. Pelo contrário, raramente é mencionada fora do circuito.
Entre média e pequena, sem grandes atrativos na evolução, sem planos de investimento de longo curso pois familiar de perfil ultra-conservador e metade dos sócios sem vínculos diretos com o cotidiano, desinteressados. Quase ditatorial o sistema administrativo, uma microscópica Tunísia.
Mesmo no atual ôba-ôba do crescimento geral para novo patamar de porte lulístico país afora, nenhuma movimentação de colegas à procura de colocações mais favoráveis, novos desafios e assim por diante. Como raríssimas vezes há dispensas, excetuados excepcionais planos de demissão voluntária, pouco se teme pela posição.
E fico pensando o que desmotiva o homem a novos lances na vida profissional, incluindo a mim, já por cá há 33 anos.
À parte as obviedades como segurança, pagar as contas, as coisas não são fáceis, aventureiro até a hora de tomar banho e assistir a novela, imagino que de fato são poucos os homens afeitos a riscos.
Empreendedores de fato, independentemente da área ou questão econômica.
Simplesmente nos apegamos, mesmo quando não tão bom, aos critérios de certa obtusidade que nos impele ao cotidiano chato, porém seguro. O caminho é sempre o mesmo, o salário vem bonitinho, conta-se com a aposentadoria, o alívio vem com as férias e de resto, como os carneiros, esperamos a tosa ou o inevitável abate.
Somos assim.
* Caçador de cabeças, uma espécie de corretor de empregos de melhor nível.