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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Churchill

Sujeito admiro, totalmente fora do contexto do político ganancioso, a exceção à regra. Plácido e implacável, sem firulas ou papo furado para os ingleses durante sua pior hora, o ataque de Hitler à ilha.

Venceu, em termos, o final do conflito ficou por conta dos russos e americanos; e cientistas inventores da bomba atômica.

Morreu em 1964, com mais de 90 anos.

Primeiro ministro duas vezes, campeão da incorreção política, principalmente entre seus pares.

Em visita a Washington, preparando-se para o descanso, usufrui de suave banho de banheira, quando Roosevelt o procura, para mais um diálogo sobre o terrível ataque dos japoneses a Pearl Harbor e o curso da guerra. Pede ao presidente americano entrar à casa de banhos e deitado na banheirona, fumando seus Montecristos, ouve o que Roosevelt, um tanto constrangido, tem a dizer. De repente levanta-se, nu em pelo, e o colega americano, de olhos e boca aberta não sabe o que dizer.

Churchill, em sua fleuma inglesa, detona: “Não se preocupe, Sr. Presidente, o primeiro-ministro britânico não tem nada a esconder de Sua Excelência.”

Literalmente.

O mais me impressiona, todavia, é a resistência física deste homem. Comandou os exércitos ingleses aos quase 70 anos. Viajou em navios de guerra, bombardeiros, cruzou o Mancha para acompanhar a invasão da Normandia, foi à Líbia cumprimentar Montgomery pela vitória em El Alamein contra o Marechal Rommel.

Em cansativo desfile no deserto, de vencedores e vencidos, os alemães e italianos, e não menos fleumático general alemão, com seu uniforme completo, deixou-se levar em um Stabswagen adiante dos derrotados. Porém sem combustível, o carrão alemão era puxado por uma parelha de jumentos. Quando Churchill tal observa detona a rir. E o alemão, idem. Derrota aceita.

Porém firme como velho carvalho inglês, ao fim da campanha foi colocado de lado por Truman e Stalin. O império britânico não era mais peça importante na nova divisão do mundo.

Perdeu as eleições do pós-guerra, recolheu-se para escrever sobre sua vida e guerras, em seis pesados volumes. Com o prêmio Nobel embolsado, logo a seguir, pela excelente escrita.

Bebia uma garrafa de champanha ao almoço, com conhaque após.

Todos os dias; após e até o jantar uísque com água. De nove a dez charutos por dia. Ao jantar outra garrafa de champanha, mais brandy. Nas reuniões de seu grupo de governo seguiam até 2 – 3 da manhã, continuava com uísque e água.

Que fígado!

Dois ataques cardíacos por esses tempos, derrame leve (do qual três dias após se dizia recuperado) e o uso do guarda-chuva bengala ajudava com a imensa carcaça.

Adorava torta de rim com carne, empurrando goela abaixo intercalando com pedaços de chocolate e goles de champanha.

Reeleito, jogou a toalha com mais de 80 anos, não se interessava mais pelos assuntos de governo, tanto desconsertado com a Guerra Fria.

Morreu com mais de 90 anos, dormindo.

Venceu os alemães com brilhantismo. E a si mesmo. Era assim.

Winston Churchill, marco de uma era que se foi, de homens diferentes na lida política.

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