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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Massivo

Em algum canto leio o "ingresso de mercadorias estrangeiras agora é massivo..". São os nossos anglicismos adotados. O uso corrente seria, penso, maciço.

Assim como o gerundismo das telefonistas e atendentes: "Eu vou estar passando o termo de aderência..." a se refletir no mesmo hábito pelos centros de atendimento telefônico americanos, com algo como: "I will be sending you the compliance conditions..."

Ou a segura economia com letras colantes, trocando "Grande e espetacular liquidação de inverno" (é letra para caramba!) por "30% off sale".

Diz o Mané de Itaquá : "Tô ino no óficeile do mercado Jirau". E não riam, é assim se formam novas línguas.

Algumas expressões incorporadas a ponto de não sabermos muito da origem, reputando-as portuguêsas, africanas ou indígenas. Breque (do brake); ou o nosso termo tão indígena, a "araruta", preferido entre os imigrantes gringos escapados da guerra civil deles, no século 19, para a paulista vila, depois Americana, adorando e plantando suas arrow roots (raízes em forma de flecha).

A língua é viva como nós, molda-se. Algumas desaparecem, estima-se em 300 anos seremos 12 bilhões de seres (com 10 bilhões de celulares...) com uma única língua, misto de idioma latinizado (inglês com espanhol) e algo chinês, talvez o dominante mandarim...

Por enquanto temos, acreditem, 5.000 línguas e dialetos ativos, alguns em grupos minúsculos, como conventos ou até grandes famílias.

Nada contra o "massivo" e o abandonar da língua dita culta, até na escrita. Ninguém mais diz: "Digo a si: cuide-se ! " pois dizemos: "Digo para você: te cuida!".

Misturamos a segunda com a terceira pessoa, omitimos preposições, matamos a forma estima-se correta das declinações e gêneros com menas ou a questã é; esquecemos não existe o questão.

Até os "absurdos" dos quais rimos: "a gente somos", "a gente fomos", no inglês já é parte da língua: "The people are always looking for..."

O "massivo" hoje é praticamente incorporado, os jornalistas adotam livremente. Assim o prá e o carro que vai conquistar você, ao invés de conquistá-lo. Da fala indígena: vou comer você, homem branco. Adotamos, é natural.

Pharmacia era normal e legal, hoje é engraçado. É mais fluido e rápido dizer: "os óme foi na feira e comprô as fruta, boa e barata." ao invés "os homens foram à feira e compraram frutas, boas e baratas."

E isso é o se denomina caráter da língua.

O afrikaans era o holandês simples e "errado" do século 18, levado pelo imigrante, campestre. Ridicularizado pelos senhores cultos: hoje é a língua oficial da África do Sul, com alguns prêmios Nobel de Literatura.

A língua é como a falamos, não como escrevemos ou imaginamos.

E simplificamos, somos assim.

O rústico holandês campestre deu origem ao sofisticado afrikaans de hoje. Língua vive, cresce e morre.

Comentários (clique para comentar)

- 21/01/2011 (09:01)

Eu sou eu, vim de onde vim e vou para onde vou. Simples.

- 19/01/2011 (16:01)

É chique citar Freud e é claro que não foi ele, mas estas perguntas "quem sou? de onde vim? para onde vou?" são as mais complexas do Universo. Alguem sabe?

- 19/01/2011 (16:01)

Cuma?

Dão - 19/01/2011 (15:01)

E lá nas longínquas terras das Minas Gerais, Freud é lembrado em um de seus profundos questionamentos: “Quemcosô? Oncotô? Proncovô?”