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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Elucubrações advocatícias

De Ludwig von Albarus, São Paulo

Por volta dos anos 89/90 eu era advogado de uma empresa transnacional de origem inglêsa, cujo superintendente no Brasil era um brasileiro, pessoa sui generis: repleto de manias, as mais excêntricas do planeta.

Por exemplo, seus critérios estabelecidos ao ser forçado a mudar de secretária; primeiro, “ só considerarei moças casadas, que usem saltos muito altos e que tenham seios avantajados ”. São critérios sine qua non se saberia datilografia ou estenografar; detalhe!

E não é que ele contratou a ex-secretária do presidente de uma conhecida empresa automobilística, nesses parâmetros estranhos...

Um belo dia, mandou-me ao Rio de Janeiro para, juntamente com o advogado local, traçar as estratégias para a solução de um intrincadíssimo problema jurídico, que nos últimos tempos vinha nos atazanando a paciência e rendendo noites e noites de insônia.

Dito e feito lá fui eu para o Ro de Janeiro, onde me instalei num hotel local. Até ai, tudo uma beleza. Recolhi-me razoavelmente cedo, porquanto longas e difíceis jornadas se me avizinhavam e, além do mais, o cansaço e o sono, maiores do que eu.

Ô cama boa! Até que por volta das três da madrugada, o bendito telefone.

Quem mais, senão " ele " do outro lado da linha, no meio de uma balburdia terrível, parecida com uma festa.

E não é ele lembrou-se de um detalhe " importantíssimo " para a solução do célebre " causo "? Tal seja a importantíssima lembrança, para me acordar de madrugada:

- “ Veja se esse doutor fulano de tal, daí do Rio, usa terno e gravata, caso não, arranje outro advogado! ”

Ato contínuo, desligou o telefone, não me dando chance nem de dizer uui. Adivinhem, se consegui dormir novamente?

No dia seguinte , estremunhado de sono, logo às oito da manhã encontrei-me com o colega local.

Qual era sua vestimenta? Terno preto e até colete.

Telefonei para o escritório, (o patrão já estava por lá, antes da secretária) e disse: “ Não se preocupe, chefe, o cara está de traje completo! ”

Jamais entendi a solicitação, bem excêntrica.

1 Advogado de 1915. O judiciário insiste nesses trajes, assim como os políticos. A razão? Quem sabe...

Comentários (clique para comentar)

LUDSWIG V0N Albaffrujs - 12/01/2011 (12:01)

- 11/01/2011 (09:01)

Curioso que na América Latina tropical, quase toda ela, insiste-se em trajes europeus de inverno. O advogado que Ludwig descreve, com "colete", no Rio de Janeiro... coisa de maluco. Lembro de uma foto de Emílio Goeldi, fundador do parque com o mesmo nome em Belém, de casaca, colete, top-hat e engravatado na inauguração. Já pensaram, em Belém? 40 graus...