O caçador de nuvens
Não é conto nem romance, nem história curiosa. Apenas a pequena mania, digamos fetiche, de homem envelhecendo, com sua agora já surrada câmera digital fotográfica. Nesse verão, talvez dos melhores em minha vida já conta 54 passados, quem me acompanhava nas minhas caminhadas pela praia, perguntou-me a razão.
Respondi aquilo observar pela terra humana, paisagens criadas e assim por diante, me deixam coberto de algumas frustrações. Como a Índia, por exemplo, onde esperei ver a mística presente, a simplicidade humana com dignidade por todos os escaninhos da sociedade.
E observei sociedade ávida pelo consumo, hiperativa em seu cotidiano, “plugada” no ímpeto da globalização, com autopistas de 8 faixas, aeroportos imensos, prédios envidraçados e nomes como Coca Cola e Adidas em todos os placares.
Entretando não seus céus, lindos.
Assim como os da Bahia desse verão ou até da pequena Suíça, onde apreciei o fenômeno formidável de céu como talvez em 1910, sem aviões alguns em vista da proibição de vôo, preventiva pela erupção do vulcão islandês. Por dias, em paz.
Adoro por isso observar nuvens, fotografá-las.
Veia turneriana, quem sabe? Procurando achar as mais distintas possíveis, as brutas, as gigantescas, as se desfazem e por aí vai.
Com minhas frustrações. Sentado em vôo ao distante Oriente, em fim de dia após horas colado na janelinha, observando paisagens européias, ainda geladas, o Mar Negro e o Cáspio, o jatão ergue-se mais um tantinho a sobrevoar a camada de cirrus, fechada.
O sol posto, o horizonte avermelhado, o deserto branco de nuvens abaixo e singela estrela surgida, não sei qual seria. Observei por talvez mais 20 ou 30 minutos, curioso quis saber por onde voava. No GPS indicou-se estar sobre o Irã, minutos da cidade de Qom, sagrada aos aiatolás.
Não a mim, porém naquele momento, sobre as nuvens em configuração nunca havia visto, com aquela estrela e o silêncio dentro da aeronave escurecida, senti-me muito leve. Quis fotografar, pensei seria interessante imagem, mas a companheira dormindo ao lado, não ousei caçar a máquina enfiada no bagageiro acima.
Somos assim, místicos e respeitosos às vezes...
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