Indiferença por sexo ou cor, finalmente?
É bem possível estar enganado; pressinto, entretanto, de algum forma o processo eleitoral para a nação do grande irmão titio Sam, estar enevoado com algo chamaria eu de absoluta indiferença; louvável, pelo curioso fato ser uma disputa entre representantes de parcelas normalmente alijadas do processo: mulheres e minorias. Aceitos pela população de lá, finalmente cansada, aparentemente, de machões brancos a bradar seu primitivo militarismo e rotular quem pensa diferente de terrorista.
A eleição ainda mais importante do planeta, pelo peso político e econômico daquela nação, não desprezando sua complexa influência cultural, faz-nos os demais 96% de habitantes deste planeta acompanhar o troço com certo receio. O último eleito e estranhamente reeleito mostrou-se, pelo visto, o pior sentado no trono washingtoniano; em todos os tempos. Acelerou a opção por novidades.
Hillary Clinton é como as mulheres devem e desejam ser no século 21. O marido infiel não a desonrou, sendo até levemente sarcástica em seu perdão (as mulheres compreenderam). Seu saudável distanciamento em relação ao processo Mônica Lewinsky em si, com a carga de ser uma das melhores advogadas nos EUA além de vencer o impossível imaginado processo ao posto de senadora por estado onde não nasceu nem habitava, torna-a Euclides da Cunha chamaria “essencialmente uma forte”. Mesmo alguns propagando asneiras como o “continuado domínio do clã dos Clinton”. Clã de dois? Ora...
Na outra ala, também democrata, o admirável Barack Obama; fenômeno. A TV matou o carisma, mostrando serem os políticos babacas como nós. Ele, Barack, é quase-quase carismático. Mulato fino, dir-se-ia assim entre os antigos dessas plagas tupiniquins. Aceitável, portanto.
E isto a deixar curioso: como se forma uma homem destes, de que é moldado?
Leio ser de família chacoalhada pelo racismo de avós maternos brancos, americanos, e avós paternos quenianos, negros. Ambos pares sem admitir, por algum tempo, a mistura de sangues. Nasce e cresce no Havaí, onde o pai culto estuda na Universidade saindo da África e casa-se com moça branca, apesar de já casado no Quênia (...). Bígamo, trígamo adiante.... Um tanto descompromissado nesta linha, pelo visto; somos assim, independentemente de status, cor ou valor.
O pai novamente abandona esposa e filho americanos em Honolulu ; segue para Harvard; estuda, assume cargo importante no governo queniano, casando-se pela terceira vez. Cachaceiro, dos bravos. Perde as pernas em acidente, guiando bêbado. Por fim morre, alcoolizado, em tenebrosa batida de carro. Em todos os anos visitou o filho somente uma vez.
A mãe casa-se novamente com indonésio, diretor de empresa de petróleo; mudam para Jakarta, onde o pequeno Barack estuda por algum tempo, porém volta ao Havaí, a terminar a escola sob tutela dos avós. O paradigma da educação americana impera, há famílias a sofrer com isto por aqui também.
Avós portanto com os quais tem forte ligação. Aceito na Universidade de Columbia e depois Harvard, segue o brilhantismo acadêmico do pai, sem a pecha alcoólica ou mulherenga. Deputado por Illinois e depois senador, é homem jovem para a ascensão meteórica, com 47 anos. Notável.
Ambos aparentemente têm o estofo para o cargo, me parece.
O oponente conjunto, John McCain com sua declaração boba “procurará Osama Bin Laden até às portas do inferno” e seu sempre ressaltado assunto repetitivo sobre o martírio foram os anos aprisionados no Vietnã do Norte, parece, cansou o público. Não acredito tenha excelentes chances, além de em seus 71 anos, num país jovem como os EUA, não ser mais motivo para rotulá-lo de experiente. Estaria mais para “um pouco velho...”.
Vamos ver no que dá.