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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Meu Harém de Família

Por Silas Correa Leite, de Itararé, São Paulo

Sempre me relacionei bem com minha irmã mais velha, Erzita, uma espécie afetiva de irmãe, que adorava. Inteligente, articulada, um amor de irmã. Com a outra irmã não me dava bem. Me batia por qualquer coisa, nas luas lá dela, que eu sempre tentei compreender. A mais nova era um doce com todo mundo, e me julgava seu protetor; vejam só, pobre de mim. Tentava entender as mulheres. Levei tempo para compreender a máxima de Vinicius de Moraes de que "mulher não é para ser compreendida, mas para ser amada". Vão vendo...

Desde que nasci fui treinado para ser pastor. De inicio pastor daquelas irmãs, por assim dizer, até mais à frente ser pastor de poemas. Lia revistas das irmãs, Capricho, Noturno, Sétimo Céu. E elas liam meus gibis, Seleções, revistas sobre TV, etc. e tal. O menino ficara moço e se tornara chato, inconveniente, abrupto. Rude. Quando minhas irmãs me atentavam, e eu não era flor que se cheirasse, dava respostas pesadas com minha metralhadora dialética e então, elas, sentindo-se agredidas, iam reclamar para o pai, figura impoluta, o artista do clã. E o pai perguntava: - Ele pensou para responder? Porque se ele pensou, vou ter que bater nele. Mas se ele falou de vereda, de supetão, não posso fazer nada. Não provoquem.

Como escritor agora, crescido, certo dia analisado por uma psicóloga-doutora da USP, com doutorado até no exterior, ela lendo meus textos, ensaios, artigos, contos, poemas, disse eu “compreender a alma humana”, porque a alma humana é feminina, e decifrei a alma feminina do mundo, da vida. Será o impossível? Enquanto parentes, amigas, irmãs, vá lá. Mas na vida real tive alguma dificuldade em lidar com o sexo oposto, adorando as mulheres que dão colorido à nossa vida, mas tendo que fazer uma releitura não enquanto afetivas propriamente ditas, do sangue, do clã, mas enquanto fêmeas, amadas, o amor, a paixão, por aí. A minha ótica respeitosa era de uma espécie de guardião, por assim dizer. Já pensou? Minha vida sentimental de inicio foi complicada. Tive que saber ver a relação afetiva com o sexo oposto a partir de uma outra ótica, nova ótica, sedução e prazer. Complicou a falta de treino nesse prisma.

Ao lado ou atrás de todo homem vencedor, há sempre uma mulher muito melhor do que ele, amando-o, provendo-o. Sorte deles. E com mulher jamais se compete. Você aprende com o admirável raciocínio lógico-funcional delas. E passa a admirar; e ficar fã. Hoje, passado o tempo, para variar, trabalho com um monte de mulheres das mais qualificáveis espécies, luzes e ritmos. A maioria delas altamente profissionais e extremamente sensíveis. Só me dou bem com mulheres verdadeiras, inteligentes, sem perder a ternura jamais. E elas sabem que sempre podem contar comigo.

Continuo aprendendo com elas, sempre, vivendo por elas, amando por elas, sobrevivendo por elas, sem ser machista, adorando a doce feminilidade, todo dia tentando fazer por merecê-las como amigas, companheiras, seus abraços amigos, mãos amigas, do sangue, do clã, da relação mais perfeita e humana possível, até porque, com elas, aprender é sempre, tudo muito cheio de purpurina e paetês, e eu, tristinho (tenho a alma triste), perto delas me confeito e me encanto de luz.

Agora, com licencinha, que tenho que passar o aspirador da casa, escolher o feijão, ir ao mercado com a patroa, assinar o cheque...


Poeta Prof. Silas Corrêa Leite, Educador, Jornalista, Escritor Premiado De Itararé-SP Membro da UBE-União Brasileira de Escritores Educador da Rede Pública e Particular de Ensino. Pós-graduado em Educação, Literatura, Relações Raciais e Inteligência Emocional.

1 Irmãs, o tema do poeta e professor Silas em divertida crônica.

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