História de um presépio...
...e fazendo as pazes com a política.
Por Reinhard Lackinger, de Salvador
Hoje quero contar uma história sobre um presépio, que pode ficar em São Paulo, em Florianópolis ou em Itaquaquecetubamonhangaba.
Um lindo presépio, com figuras esculpidas à mão pelos artistas hábeis de Treze Tílias. No meio dele, o menino Jesus e o casal Maria, mãe de Deus e São José.
No fundo, boi e jumento.
Perto da estrela-guia de Belém, que ficava na cumeeira do estábulo e caiu ano passado, à beira do telhado, há os dois anjinhos portando harpa e trombeta. O entorno da manjedoura está cheio de pastores com suas respectivas ovelhas.
O grupo de crianças, que costuma cercar o presépio durante a época de Natal, tem ficado pequeno com o passar dos anos.
Os olhos da meninada diante dele já não brilham como antes. Elas parecem fitar apenas as palmas das próprias mãos, que emanam silvos estranhos, parecendo o piar de pintos eletrônicos.
Na semana que antecede o primeiro Domingo do Advento, o capelão ajudante do vigário decidiu adicionar às antigas imagens de madeira, figuras de Playmobil e outros "clássicos" famosos do universo dos brinquedos.
Resultado: as crianças ficaram estupefatas e sem fala, sem ação, enquanto os adultos faziam diversos comentários.
Um idoso achou que o Tyrannosaurus rex não combinava com o ambiente, mas o senhor vigário estava contente.
Há muito tempo ele não via tantas crianças e até adultos diante do presépio de sua igreja.
- Figuras de animais utilitários, criaturas mansas e imitações de gente pacata e ordeira podem permanecer -, disse dona Zenóbia, puxadores do terço durante o rosário.
- Criaturas de Deus, tudo bem, mas bestas feras e monstros devem ser retirados já -, concluiu, com timbre alterado.
O capelão, um idealista apaixonado pelo "social", aproveitou a discussão para comparar as figuras rejeitadas entre as peças Playmobil com os beneficiários do Bolsa-família e novos consumidores, atualmente disputando o espaço em supermercados com "gente bem"...
- Está tudo bem -, disse o senhor vigário, colocando panos quentes. - Está tudo bem... mas uma Barbie seminua realmente não cabe no local. Além disso, acho que não foi uma boa idéia querer compensar a ausência da estrela de Belém com a do PT...