Legalizar a questão dos maconheiros?
A marca Lucky Strike, "Riscada feliz", fazia parte da ração básica dos GI (os soldadecos gringos na segunda guerra), pois se dizia que o bastonete branco era algo que trazia a felicidade, não fazia mal e remetia para longe das agruras da batalha, do colega ferido ou morto, da saudade de casa e do insuperável trauma de guerra. E ser droga "boa", segundo as "autoridades", pois aguçava o espírito e não tirava do sério.
Hoje o cigarro é combatido como se fosse criado pelo diabo in persona, enrolando um a um os bilhões, que apesar de muitos doentes de câncer e enfisema, são porém tolerados, pelo emprego na agricultura e impostos gerados, como por exemplo na Europa onde o preço, com lucro pedido pelos fabricantes, é multiplicado por 5 pelo governo, para "desestimular" o consumo... Claro.
Com a maconha não será diferente.
Não foi diferente com a lei seca nos EUA ou a hipocrisia religiosa generalizada no Oriente Médio, onde beber é coisa do diabo e proibido pelo Alcorão. Me conta um amigo, que por lá morou, da alegria das mulheres ao removerem os véus e tomarem seus Araks, assim que as aeromoças informam estar-se voando sob território isento.
Legalizar ou não a maconha é debate inexpressivo de uma boba tendência denominada ação da contra-cultura, até meio demodeé.
Os traficantes, que mais se aproveitam do assunto, evidentemente não querem, pois não desejam ver seus negócios nas mãos das grandes tabacaleiras, nem pretendem pagar impostos. Os governos dizem idem, pela saúde, mas já estão mostrando o cofrinho, querem impostos.
Há uns 25 anos, maconheiro era termo pejorativo por aqui. Droga de última categoria, "coisa do mato", do quintal da favela e da violência, rejeitada pela distinção "social" àquele que nem tutu para a pinga tinha, fumava "mato".
Como tudo porém, importamos a idéia "cabeça" dos jovens americanos que viram no "hemp" a fuga para suas paranóias de sociedade.
E aí ficamos inteligentes quando detonamos a maconha, queremos cafés chiques onde podemos queimar o troço que cheira tão mal e rir do nada, pagando impostos.
Seremos finos "curtidores", como os elegantes que fumam cachimbos e charutos nas salas especiais, a preço de ouro.
E não nos chamem de "maconheiros" mas apreciadores de baseados, como dizia a vovó que não tolerava o cheiro.
Conheço o efeito dos vícios. Não é questão "cultural".
É apenas Ersatzbefriedigung, a troca do prazer que não mais temos ou alcançamos pelo químico, induzido. Sou vítima deles, os legalizados, janota que sou. Amigos se foram, em seus excessos.
Dá medo.
Leio aqui que a psiquiatria do dito primeiro mundo , apesar de combatida como essencialmente química e "de resultados", alerta para o consumo dos canabiáceos em determinado período de formação, o final da adolescência. Nem todos são resistentes a outros seus efeitos, pouco conhecidos, como o detonar permanente de disfunções mentais. Esquizofrenia e bipolaridade, por exemplo, tão próximos. A "nóia" incurável. Ou insônia, seu primeiro efeito, nem é motivo de reflexão.
O tema não deveria ser a legalização, os impostos ou o "alcance" cultural das drogas. Mas sim porque nós humanos, cada vez mais, necessitamos delas para enfrentar o cotidiano.
Sobre isso niguém quer falar. Nem sobre a geração de milhares de mortos e a violência crescente para levar "droga cabeça" às festinhas. E a maconha é peso pesado do comércio mundial clandestino, basta ver as apreensões "modestas" de carregamentos no México, recentemente queimando 1.300 toneladas.
No fundo somos apenas hipócritas. Assim como os caras desse filme, que me manda a filha. Agricultura de precisão
E o mistério do vício, esse continua por lá. Insolúvel.
Os americanos e europeus gastam bilhões para combater inutilmente os traficantes, mas poucos tostões para em programas aos jovens alertar sobre o risco dos vícios aos muitos menos tolerantes às suas seqüelas. Por aqui proibimos a propaganda do cigarro e fotos assustadoras nos maços. Mas não há qualquer programa para desestimular o uso da maconha entre os jovens, viciante e perigosa, além de criminosa pela origem.
Ao contrário, falamos merda constante sobre "legalizar", contra-cultura, baseado cabeça, abrir a mente...
O vício é horrível, conheço bem.