Geleira ou porque me inibo com determinadas questões...
Antigamente chamavam de geleira, hoje virou glaciar, talvez mais chique, parecido com o inglês glacier. Em alemão dá um horroroso Gletscher, algo como "gléticha" pronunciado por cá; não aceitamos, somos anglófilos.
Mas sempre tive curiosidade de conhecer um troço desses. É emocionante e inesquecível.
Mílhares de toneladas de gelo deslocando-se para o mar ou, nesse caso da imensa Perito Moreno, a um maravilhoso lago dentro do protegido parque de 50.000 hectares, próximo à cidade de Calafate, na Patagônia.
Três horas de jato a partir de Buenos Aires, vale a pena.
E havia uma caminhada pela geleira, a usar-se espaiquechus (corruptela de spike shoes talvez?), sapatilhas com dentes de aço para não escorregar. Que bonitas senhoritas prendiam em nós turistas. Fiquei um tantinho acanhado, a posição de engraxates ao trabalho, similar, sempre me incomodou.
Assim como dificuldades com taxis, não sou fã: por duas razões, a conversa às vezes muito chata (se sentem formadores de opinião...) e a submissão, no estilo me-leva-onde-peço.... Ou barbeiros, oferecendo uma revista com moças nuas para "passar o tempo", enquanto dançam à sua volta... e revistas que hoje abomino, pois sempre penso nos pais das moças, vendo-as estampadas vendendo-se pelo invólucro, jamais pelo conteúdo.
E também me constranjo pela nossa maior instituição nacional, única pelo planeta com sua interação complexa, imenso grupo operando em similares tarefas, a onipresente morena empregada doméstica.
Não me sinto bem quando oferecem ou se submetem às duras tarefas, a posição eternamente subalterna, a limpar, esfregar, cozinhar e em muitos casos ainda ouvir besteiras nos maus humores de madames ou pior, proto-madames. Mas também a assimilarem o carinho maluco de patroas que confundem a relação de trabalho com estranhos sentimentos fraternais, porém a reagir com violência, quando a interpretação pela tomadora de serviço é mal compreendida.
Ou assédios de tarados domésticos, a chantageá-las.
Mas absolutamente indispensáveis no imaginário brasileiro, em seus estimo quase 15.000.000 de mulheres na odiosa tarefa. Pelo Nordeste em situações às vezes próximas da escravidão.
Porém não se abre mão de seus préstimos, mesmo na mais aguda crise, próximos da falência, sem ter como lhe pagar a patroa ou patrão, mas de forma alguma, jamais abdica-se de empregadas.
Tudo se dispensa, menos a moça do trato doméstico...
Somos assim.