70 anos com Dornier
Os anos passam, envelhecemos, surgem os primeiros problemas de saúde. Apesar da comparação infeliz, com certeza, porém a ocupação assim o impele, somos como máquinas: com o tempo de uso e sem a manutenção adequada (ou mesmo com, incluindo por aqui as fatalidades) aparecem os problemas. E com isso vai-se à oficina, digo, ao médico, para reparos ou ajustes.
Recentemente ressurgiu uma chata dor pelo lado direito do lombo, pelos quartos, assim dizem os nordestinos, e, veterano no assunto, não me inquietei. Deixei por conta de “areia renal”, que com algum forte incômodo em pouco sumiria. Ledo engano, após 3 dias desisti e fui ao especialista (por sorte achei; o que conhecia estava num congresso, especialidade de médicos e advogados, mundo afora.)
Enviou-me a um desses hospitalões da nossa Sumpa desvairada, instituto onde de fato tudo funciona, e rapidamente através da “tomografia helicoidal” descubriram a causa da perturbação. Um cálculo renal de 5 mm de diâmetro, preso no ureter, a tubulação vai do rim à bexiga.
Sugeriu o hábil doutor aguardar-se com o uso de anti-inflamatórios e analgésicos o parto da pedrita, entretanto não “rolou”, presa.
Opção seguinte, bombardear a dita cuja com ondas sonoras, até quebrar em pedaços e escoar para a bexiga e ao mundo.
Lá fomos, sempre lembrando nessas horas seu plano médico pago a preço de ouro nada valer, pois o único hospital onde havia o sistema operacional, com segurança, não aceita aquele convênio, curiosamente o maior do país. E o médico, noblesse oblige, também não aceita aquele convênio, nem o anestesista, provavelmente a reposição do valor da consulta pela seguradora é ínfima, desinteressam-se.
Ao paciente, no caso eu, restou cerrar os dentes e abrir a carteira para livrar-me da dor, começando a incomodar terrivelmente.
Tudo acertado, levaram-me à sala de porão em certo Hospital Alemão (curiosa coincidência). Penso na razão de rotularem alguns hospitais por aqui dessa forma: alemão, sírio-libanês, israelita, nipo-brasileiro, etc.), enquanto deitava na maca do engenho, no lusco-fusco da sala com seus monitores, gelada.
Virei o rosto para conhecer quem poderia me ajudar com a pedra, a tal máquina. A qual executaria o que chamam de litotripsia extracorpórea.
Dornier, os inventores e fabricantes.
A agulhada no dorso da mão, injetaram algum troço me deixou como calouro em baile da “libertação”, após 12 cervejas. Sumiram as preocupações.
Depois de algum tempo, volta-se ao planeta em pouso suave e fiz a curiosa marcação de seqüência de "filho de alemães, a tratar-se com médico tem certa Berufserlaubnis * emoldurada no consultório, no hospital alemão de São Paulo, sendo bombardeado por equipamento da Dornier Medizintechnik, divisão da fabricante de aviões alemã, fundada pelo prof. Dornier nos anos 1920."
Hm.
E por fim, lá do mais obscuro canto da mente, lembrei de meu pai, contando gostoso mesmo era pilotar um DO-17, o Dornier 17, bombardeiro(!) alemão da Segunda Guerra, conhecido por lápis voador, pela sua bela silhueta.
Portanto, 70 anos com Dornier, de pai para filho...
* Licença para também exercer medicina na Alemanha