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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Verdingen

Por Reinhard Lackinger, de Salvador

Por ter sido um aluno medíocre, nunca entendi bem coisas como "mais valia". Nomes como John Maynard Keynes e Adam Smith conheço apenas de ouvir falar.

Lembrando minha vida profissional... antes de me tornar taverneiro, esbarro na palavra alemã "verdingen", o que vem de "Ding" = coisa! Uma pessoa se torna coisa, trabalhando para alguém que lhe paga um salário.

Olhando isso hoje, parece feio, criando uma imagem desagradável. Voltando uns cento e poucos anos na história, com crianças trabalhando de sol a sol em meio a teares, com gente apertando parafusos numa linha de produção como Charles Chaplin em Tempos Modernos, o papo é outro.

Pois é, já ralei muito para os outros... até para o Governo Federal. Parte do tempo passei debruçado sobre orçamentos e propostas físico-financeiras. Havia o valor da matéria prima a considerar, mais a mão de obra, o valor do equipamento e demais insumos, além de impostos na formação do preço de mercadorias.

Conhecimento que usei para fazer o cardápio do Bistrô PortoSol: 200g de filé especial, 400g de picanha, 1 1/2kg de joelho de porco, 300 g de lombo suíno, 200g de cogumelos, o preço de batatas, tomates, cebolas, do alho, dos condimentos...

Tudo fazendo sentido... até a remuneração dos taverneiros... "maomeno".

O que não faz sentido para mim é a fortuna que os nossos políticos gastam para se elegerem... para ganhar uma merreca como deputado, como senador... Somando o salário de um político ao longo de 4 anos, não dá nem para pagar 5% das despesas com santinhos, com a Kombi de som circulando pelas ruas e azucrinando o juízo do eleitor. Mesmo assim andam em carros bem melhores do que eu com o meu Fiesta semi-velho, ano 1997.

De onde será que vem a riqueza que esses políticos ostentam?

Outra conta que para mim não fecha, confronta os gastos com um time de futebol se deslocando para enfrentar um clube a milhares de quilômetros de distância, com a renda auferida. Com o dinheiro arrecadado pelas bilheterias ao se apresentar para apenas meia dúzia de pagantes presentes às arquibancadas de um estádio, cuja manutenção custa uma fortuna por partida...

São passagens aéreas para uns 20 jogadores, mais comissão técnica, cartolas e demais pessoal para cuidar do conforto dos cabeças de bagre, além do custo com hospedagem em hotéis de luxo e demais mordomias para a delegação.

Também não entendo a verbazinha ridícula de apenas 100 milhões de reais destinada a subsidiar blocos e trios elétricos para que os donos do carnaval não corram sério risco de irem à falência, já que aquilo que arrecadam com abadás, propaganda e camarotes, mal dá para pagar as diárias dos cordeiros?

Também não entendo como um império como a TV aberta do Brasil pode sobreviver sem cobrar nenhum centávo dos telespectadores. Na Áustria, pais tão avançado e pautado no social, todo aparelho de televisão é taxado e o povo tem que pagar pelo que assiste na telinha.

Pois é, posso não entender lhufas de economia, mas desconfio que há bem mais "pastagens" fartas por aí do que possamos imaginar... e do que a Receita Federal tem na mira.

Em meus delírios vejo políticos vestidos de vaqueiros em meio a essas pastagens! Será que é realmente melhor deixar que grandes empresas patrocinem obras sociais? Será que os barões da mídia, os exportadores de matéria prima, as fábricas de bebidas e de cigarro e concessionários de serviços públicos como telefonia e energia saberiam como aplicar de forma democrática e justa o dinheiro que deixam de pagar ao fisco? Será que é bom para o país que deixemos que o empresariado se responsabilize pelo "social" em vez de cobrar deles impostos justos? Já pagamos impostos demais, não é?

Acabamos de ver no impostômetro que o governo já arrecadou R$700.000.000.000... Será que me enganei numa casinha, num ou dois ou três zeros?

A única certeza que eu tenho é que como taverneiros que preparamos todas as comidinhas na panelinha - panelas que têm que ser limpas antes de preparar o próximo pedido - levo certa desvantagem comparado com restaurantes, onde os ingredientes e alimentos semi-prontos são mergulhados no óleo "de hooooooje" na fritadeira, ou no forno micro-ondas, não dependendo de nenhuma panelinha para lavar.

Será que estou pronto para ser internado num hospício ao pensar que se já não nos tornamos reféns de magnatas irresponsáveis, falta pouco para voltarmos de vez à Idade Média? Fiquemos de olho em atividades para lá de lucrativas fora do alcance do fisco...

Amém...

Entre 40 e 50% do nosso produto interno bruto se destina a impostos. Com o retorno que todos conhecemos, basta ir tratar-se no SUS ou usar outros serviços públicos...

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