Conselhos de uma avó
Curioso. Pena que a velhinha da história a seguir nunca aprendeu um bom Português, ajudaria mais a neta. O uso da línguagem coloquial na escrita torna-se algo complexo, a quem aprende fica uma salada incompreensível. É a forte influência da propaganda, que detona a língua escrita, a abraçar a língua coloquial.
"Vou te dizer, amigo. Aqui é a melhor opção de comprar para fazer você feliz!"
O falar tem nuâncias, é o correto. Mas o escrever, desde os romanos, é sempre culto, para o entendimento geral; e sem deixar dúvidas.
"Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas pra te contar." Hm.
A velhinha poderia ter dito:
"Fecha a porta com cuidado e senta-te aqui ao meu lado. Tenho umas coisas para te contar"
ou
"Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas para lhe contar"
Assim a vovó deseduca...
Mas a história é interessante, uma dessas lições de Internet. De tão freqüentes tornam-se até aceitáveis. Daí a necessidade de certa organização.
"Da minha precoce nostalgia
Por Maria Sanz Martins
Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de Porto, dizer a minha neta:
- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas pra te contar.
E assim, dizer apontando o indicador para o alto:
- O nome disso não é conselho, isso se chama corroboração!
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte. Por isso, vou colocar mais ou menos assim: É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.E satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você. Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e a Austrália.
Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro. Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito..."
Tenha uma vida rica de vida.
(Vai que o carteiro ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é imprevisível.)
Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela. Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.
A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco! Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação. Leia.
Pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim, se não por você, o faça por mim.
Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão. Cultive os amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor. Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era só isso minha querida. Agora é a sua vez. Por favor, encha mais uma vez minha taça e me conte: como vai você?"