Monopólios naturais?
Os jornais são divertidos, às vezes penso até de maneira inconsciente. Abrem espaço a grandes mestres do conhecimento humano, com editorais e colunas que filtram a essência do que de fato é o Zeitgeschehen, como dizem os alemães. Traduzindo de forma simplória, seriam os fatos do momento, mas meu alemão é precário para endossar se isso mesmo. Porém gosto da palavra.
Também abrem alas a certa soma de bobagens, como a que leio hoje 18 de julho no espaço de Luiz Carlos Bresser Pereira, em “O menino tolo” na Folha de São Paulo. Discorre sobre os erros em privatizar serviços públicos, como a telefonia. Chega ao, perdões, ridículo, de endossar através da seguinte afirmativa: “No caso da telefonia fixa, a privatização é inaceitável porque se trata de monopólio natural.”
O que seria o monopólio natural? E de quem?
Positivamente Bresser esqueceu como funcionam (ou não) os monopólios “naturais” mundo afora, por exemplo os aeroportos brasileiros, seus fantásticos planos de investimentos, sua administração perfeita, basta ler no mesmo jornal a reportagem sobre a qualidade especial da administração do estacionamento de aeroporto de Guarulhos-Cumbica....
Ou nossos portos, citando um exemplo mais antigo.
Talvez o monopólio dos correios, absolutamente “natural”, verificando como a atual administração melhorou os serviços, principalmente o Sedex para regiões distantes.
Ou na própria telefonia, em tempos de monopólio “natural”, quando as esposas de funcionários da Telesp (lembram dela, com seus planos de expansão nunca cumpridos, calote público mesmo?) operavam empresas de compra e venda de linhas telefônicas, quando o monopólio “natural” permitia que em localidades como Barueri em São Paulo, uma linha telefônica custasse em torno de US$ 9.000 (nove mil dólares). E os primeiros celulares eram “revendidos” por 3.000 dólares a linha, em vista dos "monopolistas naturais" segurarem um pouco a efetivação de suas entregas nos “planos”. Resolveu-se com a privatização no governo FHC, hoje é como nos países normais, compra-se sem abuso, reclama-se, troca-se de operadora. Antes nada disso havia, a companhia era para os funcionários, não para o público.
Monopólios não funcionam ou são subsidiados, por exemplo com os 70% de impostos que a Petrobrás recolhe sobre combustíveis, isso ocorre mundo afora. A União Soviética era um grande monopólio, deu no que deu. A nossa fajuta e ineficiente Previdência é um monopólio, perguntem a aposentados não estatais qual o nível de satisfação...
Me perdoe Bresser Pereira, mas defender monopólios nacionalistas é a visão de reis do século 12 ou antes... Nem Hitler ousou, deixou espaço para a iniciativa privada, sempre mais eficiente.
Até primitivismos anacrônicos como exércitos já sucumbiram ao conceito que monopólio não é "natural', basta ver o uso de milicianos privados, assassinos profissionais e mercenários contratados pelo governo americano no Iraque, homens que lutam pela grana, sem nacionalismos, trazendo "resultados"; discutíveis, mas resultados.