Porque não votar em Dilma, Serra ou Marina
Nada pessoal, obviamente, nem conheço as criaturas. Mas ouvindo hoje da minha esposa uma sobrinha ter sido quase estrupada por dois homens ao voltar pela manhã da faculdade, tendo se desvencilhado com ajuda de terceiro que acudiu aos seus gritos, na moderna, moderníssima e muito segura, segundo o partido da candidata à frente, Salvador.
Da família da jovem fiz ligeira contabilização e me ocorreu sua avó, o avô e o tio já foram ameaçados, encarcerados e seqüestrados na distante e diziam pacata Ipiaú. Um tio e a tia, assaltados várias vezes em Salvador inclusive com tiro no rosto desse tio, por sorte nada mais grave, atravessou a bochecha. Ficou a interessante impressão de ser assaltado em plena luz do dia pelo relógio num desses calçadões da orla marítima.
Uma série de assaltos ditos “diretos” aos automóveis de outro tio e tia, até com lances jocosos de disputa com o ladrão, xingamentos e assim vai. Incluem-se tradicionalmente os furtos pela bonita Bahia já são perdoados de antemão, pois lá nada se furta: as coisas são apanhadas; e quase assassinato de filho, com seus 9 anos, por um “segurança” de condomínio, a apontar arma destravada por suposta invasão de lote e construção abandonada.
Mesmo filho que por São Paulo já foi assaltado duas vezes como pedestre e motorista, roubado, levando na ponta da pistola o carro esses amigos do alheio. Assim como sua irmã ameaçada com faca em cruzamento pelo descuido do vidro aberto; e o celular arrancado em outra ocasião ao esperar ônibus. E no alegre andar pelo pacato bairro roubada, com ameças, indo seu aparelhinho de som portátil. A empresa onde trabalho assaltada três vezes; meu pai , aqui também trabalhava, teve direito a coronhadas pela “lerdeza” em atender os bandidos, nos idos de 1980, 1979 e 1976. E a casa onde moro comprada à viúva de velhinho, o qual curioso com o barulho no quintal tomou logo um tiro fatal, de bandidos haviam assaltado a casa vizinha, 1981. Deu até jornal, o homem era famoso.
Ou seja, da família próxima e conhecidos, eu estimo entre 75 e 85% dos membros já sofreram a cotidiana e cultuada violência brazuca.
Em qualquer ponto do país.
Não há ilhas de excelência ou isolamento, do Oiapoque ao Chuí rouba-se, mata-se, estupra-se e furta-se em maior ou menor concentração. Não há maiores punições, excetuadas as vinganças. Com o dinheiro certo a prisão passa longe, ao humilde bandido às vezes até certo conforto o abrigo pelo erário público, após anos muitos nem desejam mais sair.
Vivo nessa terra há 53 anos, sempre ouvi um dia a violência seria coisa do passado. Nunca ocorreu, hoje os políticos nem tocam no tema, sabem ser melhor prometer morada e bolsas em geral do que segurança.
O modus vivendi brasileiro se lastreia historicamente na violência, em todos os níveis. Ontem mesmo ouvi o filho da vizinha, classe A de Sumpa, menino de seus 5-6 anos, dirigir-se à irmã, como “vaca, veada, filha-da-puta, vou te bater!”.
Ela com seus 2 anos nada disse.
Filha do mesmo vizinho, cuja seguinte vizinha ao ter galho de sua primavera cortado imprudentemente, dirigiu-se a ele como “F... , seu filho de uma puta, que porra você fez com minha planta.!”
É o modo americano, do norte e sul de interpretar o outro sob a luz do ódio, sem excluir os inocentes. Penso no fino professor de literatura de universidade americana, ao receber e-mail deste nosso site para apreciar a leitura, na segunda vez caiu na baixaria e soltou todos os sapos de sua garganta, por escrito. Prof. Walter Jesse, apelidei-o de Walter Jesse “James”.
Perguntei a ele se também surrava o carteiro do US Postal Office toda vez recebia propaganda não solicitada...
Não respondeu.
Mas por aqui é o extremo. Somos hoje a nação em números absolutos mais mata, segundo a organização mundial de saúde (em minúsculas mesmo, pois só se ocupa de empregos e estatísticas). Em cidades como Recife, somente 0,2% dos homicídios são esclarecidos.
Enfim: por aqui o crime compensa. E quem deveria combatê-lo, a administração da nação, não está nem aí. Não dá visibilidade política como o poste de luz ou a linha de metrô.
São assim, desde 1.500.
E obrigar-nos a votar, com chantagem administrativa e impedimentos se não o fizermos, não é encorajador para a diminuição da violência, tão grande nesse país. A rigor é apenas o exercício da violência pelo estado, também habitual por cá, desde 1.500.
A democracia acaba onde se inicia a obrigação ao seu exercício por todos.