Seleção desastrada
Feriados longos sempre são boa oportunidade para rever bons filmes. Porém esse, especialmente, foi um tanto desastrado, pelas opções fiz. À medida que os anos passam, nos tornamos mais seletivos com os assuntos pictóricos e o enfado de observar aquilo pode ser escolhido na locadora torna a escolha, às vezes, um lixo. Com perdão se não concordarem os leitores sobre minha opinião. Principalmente contradizendo quando se dá aos filmes antigos um caráter de super-obra inigualável, uma tendência.
Portanto, vamos lá.
Tanto se escreveu recentemente sobre a filmografia cômica brasileira de tempos passados incluindo o famoso Mazzaropi, resolvi conferir, com Um caipira em Bariloche. Caso houvesse um anti-Oscar para o pior filme, sem dúvida seria seríssimo candidato. Se ao menos fosse engraçado... A rigor é tão ruim, torna-se mera curiosidade. O ator principal, o estranho Mazarropi é péssimo, casmurro e desajeitado, parece desinteressado no papel. Porém sem qualquer humor, confesso não compreendi plenamente o segredo do dito “sucesso” da comédia.
Adiante assisti SOS Iceberg, horroroso filme de Tav Garnett, com a mambembe atriz Leni Riefenstahl (porém talentosa diretora e fotógrafa) no papel da pilota heroína, a tentar salvar seu namorado preso em um iceberg da Groenlândia. As cenas são bonitas, rodadas in loco. Com a participação de um famoso não-ator, o ultra-deprimido Ernst Udet, talvez o melhor piloto da história (de fato era capaz de pegar um lenço ao chão com a ponta da asa), mais tarde nomeado por Hitler inspetor geral da Luftwaffe, odiava o cargo, todavia foi chantageado a aceitá-lo. Suicidou-se em seguida, não só por isso.
Depois, indo pelo anúncio do relançamento dos filmes de Bergman, optei por um bem antigo, Um barco para a Índia, acho de 1947. O diretor navega à distância sobre o tema de O Anjo Azul, de maneira mais “cabeça”, com uma curiosa disputa entre pai e filho. Em ambiente interessante: velhos navios e trabalhadores náuticos, no resgate de embarcações perdidas em canais secundários da Suécia. Mas não me encantou, a improbabilidade da ação e dos diálogos chega a incomodar.
Por fim, apesar de resistir na investida, prometendo a mim mesmo fugiria de filmes americanos, acabei por assistir Freud Além da Alma de John Houston, de 1962. Não gostei, talvez a vida de Freud simplesmente não caiba em telas, em hollywoodiana reencenação. O modo americano na fala, o olhar terrivelmente úmido e gay do ator principal não convence, fica estranho. Uma simplificação do que não é simplificável.
Enfim, às vezes erramos nos filmes escolhidos, somos assim.