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Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Por todos os santos...

Nesses dias tenho pensado intensamente em um velho amigo. Nos conhecemos desde 1970, lá vão 40 anos. Está enfermo o pobre homem. A luta certamente desigual com o impalpável, naquilo os fatalistas dizem ser imprevisível. Homem de fibras, muitas. Em seu posto já estaria eu entregue às vicissitudes daquilo não conhecemos, talvez nem queiramos conhecer, mas não há alternativas.

E com isto lembrei-me de ditos populares, curiosos alguns, e de santidades, se existe isto. Eu, por mim, como já escrevi, me esgueiro pelo sistema místico, sem maiores compromissos. E sem ataques.

A cada um seu campo de atuação, a mim apenas a ingenuidade. E, portanto, todas as manhãs, a descer a escada, dou minha segura batidinha, três a rigor, em modesto oratório com São Judas Tadeu e sua há muitos anos faltante lança. Digo o nome do amigo e solicito parcimônia no sofrimento, além de longa vida.

Recentemente comprei um outro maior, para a sala de visitas. Mas pouco tenho me integrado com esse, o antigo tem dado conta.

Alguns amigos se riem disto, pois como batizado evangélico luterano, não tenho direitos a essas coisas de santos. Martinho Lutero acabou com tudo em protesto: dízimos, santos, oferendas e prendas, vendas de pedaços da Cruz, do Santo Sudário e celibato; casando, dizem, com bela freira abraçadora da causa libertadora no século 16.

Diriam os turcos: Whatever...

Porém mais adiante, percebi que minha questão religiosa, se tal existe, se trata de um terrível potpourri; e um santinho não seria inconveniente. O que agita a alma é a fé, certo? Sem as idiotices de frases como “Deus é fiel” (a quem seria, às vítimas de Auschwitz?), “Para baixo todo santo ajuda” (pobres pilotos e passageiros de aviões caídos...) e a imbecilidade mór impressa no dinheiro gringo, “Em Deus confiamos” (somente nos casos que envolvem moeda?).

Sou fruto de uma amálgama de credos, nem sei como não houve um colapso místico com tantas correntes.

Pelo lado do avô paterno, aquele menino de 16 anos a engravidar minha avó, babá dos vizinhos aos 28, o credo corria com distantes origens no Oriente Médio. Sua mãe, fervorosa no trato religioso, convenceu a vizinha a demití-la e nasceu o menino sem pai presente, já que a moça além da classe social distinta e bem mais velha, era luterana, o café com leite por lá, incompatível, discrimine-se!

Pelo lado materno a avó também era luterana, porém o avô um convicto católico, de terços e catecismos, orações, missas e claro: santos! Separam-se logo. Já seu irmão queimaram em Dachau, por ser Testemunha de Jeová, A. Hitler não discriminava apenas judeus; queimava ciganos, crentes, místicos, socialistas, homossexuais, débeis e simplesmente quem pensava diferente.

Mas voltando aos santinhos, quebram os galhos.

Acreditamos neles, somos assim.

1 São Judas Tadeu.

Comentários (clique para comentar)

- 24/06/2010 (16:06)

Gott is tot, Nietzsche
Nietzsche is tot, Gott.

Jairo Gerbase - 24/06/2010 (14:06)

God is a concept... The dream is over...