Bloomsday
Publicado em 1922, o romance Ulysses apontou para um novo rumo literário ao revolucionar a forma e a estrutura do romance, influenciando decisivamente o desenvolvimento da "corrente da consciência" e impulsionando a linguagem e as experiências linguísticas aos limites da comunicação. À época de sua publicação, no entanto, em 1922, a obra foi considerada obscena e diversos exemplares foram queimados ou desapareceram. Logo, porém, os críticos observaram a radicalidade de sua revolução na linguagem, levada a níveis de complexidade incomuns. Em pouco tempo também, Joyce conquistou respeitados admiradores como o escritor alemão Thomas Mann, que se via próximo da escrita do irlandês, especialmente no gosto comum pela paródia como operação estilística. Em o Estado de São Paulo, 16.06.2010
Hoje é o Bloomsday, 16.06. E lembro quando um amigo me presenteou com a versão brasileira de Ulysses do James Joyce, tradução se não me falha a CPU e o banco de memórias, de Antônio Houaiss. Talvez eu tivesse algo entre 18 e 19 anos, li todo, um exercício interessante. E nada entendi. Palavras inventadas em inglês e tradução para o português; era difícil para minha péssima formação à época. Mais adiante, já maduro, pelos trinta, tentei novamente, relendo.
Desisti.
Ou a tradução era falha ( temeroso dizer isso de Houaiss) ou a idéia do Joyce não me encantou. Não a captei.
Há no livro superlativos bizarros, como o maluco monólogo da tal Molly Bloom, um parágrafo imenso, citação dos ditos de uma confusa senhora, por páginas seguidas. Posso ser franco?
Tedioso.
Sem desmerecer o mito da obra e a mágica do autor, algo inexplicável para mim deve suceder para que Ulysses tenha esta posição de destaque na literatura.
O escrever complicado bateu por aqui também, anos depois, com Guimarães Rosa em Grande Sertão, Veredas, mais palatável talvez.
De qualquer modo, são obras de marco na literatura. Pouquíssimos lêem, são muitas vezes incoerentes ou incompreensíveis. Com seu lugar porém, isto é admirável. Sempre citadas, seus autores cultuados, até tendo seus dias de festa.
Entretanto sempre me faz lembrar a história do Rei está nu, na sinceridade da criança e a malandragem do alfaiate.
Observei questão similar recentemente em um museu, o Kunsthaus, onde há uma sala específica em homenagem ao grande artista plástico alemão Joseph Beyus, e uma obra que se resume a blocos de granito e uma trilha esculpida em seu perímetro, regadas a cada duas semanas com azeite. Olhei para os blocos e um supervisor da sala, me pareceu um estudante de arte, riu. Eu também ri, nos entendemos. Me explicou as pedras sofriam este processo de azeitamento regularmente, era coisa importante para o conjunto.
Perguntei então o que achava de tudo aquilo e à voz pequena disse: deveria achar algo, certo? Mas não acho nada.
Há vezes os reis estão nus, são assim.