Kruschewsky em dobro
Por Ildásio Tavares, de Salvador.
A cidade anda cheia de advogados. Uma miríade de faculdades despeja centenas deles por ano que ficam batendo cabeça naquilo que na Inglaterra se chama de bar exam – o exame da OAB. Este santo exame é quem faz a peneira, fazendo suar e suar esses advogados de meia tigela oriundos do PP, pagou passou.
Sou advogado. Inscrito na OAB desde os anos sessenta. Muitos pensam que sou apenas poeta mas também sou advogado. Advoguei com sucesso na Justiça do Trabalho. Advoguei em defesa de amigos subversivos, arriscando-me a também ir pra cadeia. E advoguei no crime pra tirar porradeiros do Campo da Pólvora do xilindró, esta a mais infausta advocacia porque eu tinha até que pagar a fiança, grana que nunca mais eu veria.
E fui aluno dos bons, De Orlando Gomes em Civil, de Raul Chaves em Penal, de Zezé Catharino em Direito do Trabalho. De Aliomar Baleeiro em Finanças. De Machado Neto em IED e do saudoso Auto de Castro em Filosofia da Direito. De Lafayette Ponde em Administrativo e de \Mário Barros em Comercial. Ao inciar a aula de Direito Internacional, o poeta satrírico Lafayette Spínola dizia. “O Direito Internacional é um Direito com o qual e sem o qual o mundo continua tal e qual.”
Como advogado andei procurando por outro numa causa pequena mas tinhosa que vinha se arrastando na mão de alguns dos meus colegas de turma mais competentes sem sair do solo. Não sei o que lhes faltava, cheios de nome, de currículo, de glória. Teve um que me foi apresentado por um colega como grande civilista. Com um problema de pensão alimentícia pendente, esse rapaz tentou resolver o caso com um ofício para o Serviço de Pessoal da Universidade e é claro que não andou. Quando soube do caso eu lhe telefonei e disse:
-“Caro Mestre esse caso só pela via judicial.”
Pois é, ele disse e eu respondi, - “Você é o civilista e eu é que lhe digo o que fazer!"
Mas, felizmente, me encaminharam para uma dupla de jovens que de pronto me impressionaram por seu discurso claro e objetivo. Um primo meu muito conceituado os tinha recomendado.
E logo na entrada do escritório, sofisticado e de muito bom gosto, senti a presença de uma pessoa alvo de minha admiração, desde que votei para ele como Presidente que foi do Centro Acadêmico Ruy Barbosa.
Gabino Kruschewsky. Hoje, o escritório mantém o nome por homenagem e tem como figuras principais, Eugênio e seu primo André. Senti logo que a causa ia tomar novo rumo. O escritório cheirava eficiência desde os advogados aos funcionários. Mantivemos uma comunicação constante, meus patronos agindo com seriedade.
Não deu outra. A causa andou. Uma apelação de alto nível foi produzida por André, deixando-me, como escritor, impressionado pela clareza, objetividade e excelente redação e, como advogado, plenamente satisfeito com a fundamentação jurídica e bibliográfica da peça processual.
Ganhamos a causa.