Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Grande apetite

Sempre à procura da refeição ideal (evidentemente jamais encontrarei) arrisquei alguns palpites, correndo atrás do assunto em viagem ao, como dizem, Velho Continente. A baixo custo, embarcando em um destes cruzeiros em seu retorno necessário, após as temporadas na costa brasileira, onde no ôba-ôba do “levante econômico luliano” da atualidade, se encontra a mina de ouro.

Certamente não foi a bordo encontrei a culinária perfeita. Pelo contrário, espaço e tempo fazem, pelos menos naquela empresa, a refeição um troço divertido. Todavia longe de deslumbrar.

Com uma destacável exceção: um grupo de cozinheiros indonésios e seus garçons que, praticamente sendo seu único hóspede nos dias de viagem, capricharam in extremis com os reduzidos meios tinham na sua despensa. Sua seleção Yokohama, antecedida de um temaki com a alga crocante (a secam discretamente na chapa), o arroz certo, não muito doce, e o saquê mesclado no ponto, uma névoa de raiz forte entremeando, pedaços de atum toro, e coroando um discreto camarão empanado, foi o melhor comi na vida.

Para quem quiser saber o nome do restaurante e o navio, peço passar e-mail para Hermó, clicando aqui..

Na chegada a Veneza, assustado com a quantidade de pessoas naquela ilhota, procuramos a boa comida do Veneto. E não fomos decepcionados, principalmente sem sermos expoliados. Procurando perder-nos de propósito, próximos da ponte Rialto, em um beco encontramos o restaurante aparentemente não era a escolha turística. Servidos como reis, com o que é de lá. Incluído um tal bacallao mantecato, o bacalhau dessalgado, cozido e desfiado, batido no azeite virgem até formar um creme, maionese talvez. Com um copo de branco, gelado. Nada mal, recomende-se. Aquilla Nera é o nome do boteco, nada mais revelo.

Mais adiante em Zurique, o talvez melhor desjejum na minha existência, num destes hotéis cuja máxima é conforto, conforto e conforto. Nunca vi igual (nem comi). Seleção de queijos de deixar restaurante francês no chulé, pães com sementes de papoula (aqui a diligente ANVISA proíbe...), cogumelos gratinados, salmão defumado, arenques, carnes fatiadas, ovos mexidos, cozidos, fritos ou apenas quentes, café, chá, suco de maçã, laranja, blá, blá, blá.

A esposa raramente se aventura em cafés da manhã, para dormir mais, entretanto quando soube, no segundo dia estava postada para um ataque.

Por fim a Índia, nosso destino final para a visita à filha e genro, já em longo débito.

Terrível, a profusão de temperos acaba, em bom linguajar, esculhambando o gosto. Tudo tende a ter o mesmo terrível sabor de masala, a diabólica mistura de condimentos. E uma nobilíssima exceção, um restaurante de discreto hotel, em Nova Delhi, de nome Indian Accent, onde um cozinheiro realmente de mão cheia, faz uma comida fusion entre o mais suave ocidental e o picante oriental indiano, diria é o certo.

Imbatível.

Uma seleção de pratos fazem merecer-se a viagem, num local quase oásis em meio ao caos delhiano. O carneiro com a consistência e o tempero certo, algum iogurte no molho, o arroz basmati e um leve toque de açafrão da terra, os imensos cogumelos empanados, chutneys suaves, molhos de tamarindo. Nada mal. Nada mal.

Pois é, gostamos de comer, somos assim, não é?

1 Como podem ver, o restaurante não primava pela quantidade de hóspedes... Mas tocado por indonésios, dos melhores japoneses que conheci.

2 Veneza e a pequena trattoria, aparentemente fora do circuito "gran-turismo", foi a grande surpresa. Imbatível.

3 Na Índia, em meio aos infernais temperos, uma ilha, literalmente de comida mais suave. Seria o melhor da Índia?

Comentários (clique para comentar)

- 05/07/2010 (10:07)

Voce ainda vai morrer pela boca, feito peixe.