Homens e mulheres podem amar mais de um(a) parceiro(a)
Por Galindo Luma, de Salvador
Curioso que sou, leio com freqüência os conselhos que sexólogos e psicólogos dão às pessoas que mandam perguntas pela internet. Parte dessas orientações são encontradas em jornais, revistas e TV. Duas delas me chamaram a atenção, publicadas num jornal de Salvador, da mesma especialista, em espaços de tempo distintos.
Primeiro, uma jovem a quem chamei de “baianinha trepadeira”, na minha coluna Variedade Mundana. A moça disse que transa com vários homens e que é feliz assim. Depois, um jovem disse que tem muitas garotas no pé dele, que não dá conta de tantas e que gostaria de ter uma namorada, mas acha que não seria fiel.
À jovem polígama a orientação foi para que, além de usar camisinha, ver o momento de encontrar um parceiro fixo. Para o outro a estudiosa diz: “o ser humano precisa de carinho, atenção, reconhecimento, admiração e esses sentimentos só aparecem, entre um casal quando a relação se aprofunda e permite um conhecer o outro, aprender e amadurecer juntos. Tem uma hora que não dá para ficar somente com relações superficiais e se quer algo mais. O seu momento de namorar vai chegar. Saiba que quando se gosta realmente de alguém, não há espaço para outras pessoas na relação”.
Que o ser humano precisa de carinho e atenção, não resta dúvida, mas concluir que esses sentimentos só existem se a relação se aprofunda é no mínimo discutível. E afirmar que quando se gosta de alguém não há espaço para outras pessoas na relação é forçar a barra demais.
Tenho o costume de polemizar contra opiniões com as quais discordo fazendo perguntas, talvez uma forma diferente de contra-argumentar. Então vamos. Quem decidiu que quando se gosta de alguém não há espaço para outras pessoas? Qual lei estabeleceu que uma mulher ou um homem só pode gostar de um (a) único(a) do sexo oposto?
Quem definiu que é melhor para o ser humano manter relações duradouras em detrimento das “superficiais”- expressão usada pela psicóloga para desqualificar as saudáveis relações passageiras? Uma pessoa não pode ser feliz tendo uma seqüência interminável de vários parceiros? Ou seria melhor conviver com uma única parceria uma vida inteira? No meu caso concreto, talvez por não ter compromisso com as leis sagradas (eu as repilo sumariamente) não vacilaria em apontar para a segunda opção.
Quantas milhares e milhares de mulheres convivem com o marido e o amante por tanto tempo amando os dois? Vou dar um exemplo concreto, mas apenas a título de exemplo: conheci uma mulher casada que dizia amar intensamente tanto o marido quando o amante e que e não aceita em hipótese alguma a possibilidade de saber que um dos dois poderia traí-la. Diz ela que mataria se soubesse.
E quantos milhares e milhares de homens no mundo convivem com uma ou mais mulheres, casados ou não? Alguém poderia dizer apressadamente que ele só ama uma, o que pode ser verdade, mas também pode não ser. E quem comprova que nesse tipo de relação a que me refiro não existam carinho, atenção, reconhecimento, admiração? A propósito, se não houvesse, a relação simplesmente não existira e você que agora ler essas linhas deve conhecer inúmeros exemplos que comprovam minha especulação.
É notório, é claro, é evidente, que homens e mulheres despertam tesão e desejo não somente por uma pessoa e isso é absolutamente natural – não há nada de anormal ou condenável nisso. Ocorre que convenções sociais e religiosas (juntos até que a morte os separe...) prepararam o terreno para a solidificação dessas teses – a meu ver, reacionárias.
Mulher e homem terem apenas um parceiro deve ser visto como uma simples opção pessoal e da mesma forma se os mesmos optarem por mais de um. Ademais, é possível sim, relações saudáveis e carinhosas que não sejam exclusivas. Como já disse na Variedade Mundana algumas vezes, o ser humano não gosta de apenas um escritor, de apenas um filme, de apenas um cantor, não come apenas uma mesma comida, não freqüenta uma única praia – ele gosta de ter opções. Ele poderia também, por opção, gostar só de um cantor, somente de um programa de TV, de um animal, mas essa não é a regra reinante.
Cabe registrar, para finalizar, que muitos dos que adotam a monogamia o fazem não por opção, mas pelo medo, pela repressão, pelos preconceitos. Ou você nunca viu uma mulher “comprometida” dizer assim: ah, que homem gostoso, ah, se eu pudesse, e outras manifestas demonstrações de desejos reprimidos? E eu acho isso um crime, a repressão moral se sobrepor a atração sublime de uma mulher por um homem e vice-versa.
(*) Galindo Luma é palpiteiro