Elucubrações astrofísicas
Por Ludwig von Albarus, de São Paulo
Não é novidade que dediquei-me, nos últimos trinta anos, ao magistério juridico, sendo que nesse sacerdócio fui acolhido em uma das mais prestigiosas unversidades do país.
Sob a batuta do Professor Mario Veiga, diretor da faculdade, em sua primeira gestão. Meu mestre. De indizível sabedoria.
Vejam este epísódio: pedi audiencia a ele, furioso que fiquei com um despacho em tons um tanto severos (para não dizer, grosseiros), por parte de certa autoridade da universidade.
” - Vou fazer isto...vou fazer aquilo outro...”
” - Calma, meu caro, pondere o seguinte: de seu lado, há um que recebe; e do lado de lá há quarenta que pagam,... qual você acha que prevalescerá ?”
Professor Mario Veiga... um gênio em descobrir talentos.
Um dêsses foi Martinha. Eis que o departamento de Matemática, num determinado dia ficou acéfalo com a saída repentina do professor Aranha, que foi integrar uma determinada entidade internacional, na Bélgica.
Problema dos grandes para o professor Mario Veiga, substituir a chefia do departamento mais intelectualizado da escola.
Ninguém atentou para a admissão de Martinha. O professor já tinha iniciado a atuação, homem a homem, no departamento. Daí uma semana, a bomba! Nomeação e posse de Martinha na chefia do departamento. Entre "otras cositas" aquela menina doce, porém também brava e autoritária, como um tigre, era doutora em astrofisica pela universidade de Stuttgart na Alemanha. Como se não bastasse, era doutora em fisica molecular, pela universidade de Munique. E para completar, doutora em matemática, também pela mesma universidade.
Aquela figurinha doce e tranqüila não dava moleza a seus pares, nobres professores, sendo que um deles disse, um dia, à boca pequena, que a uma discussão com a "menina" seria preferivel a extrair um dente, sem anestesia...
Martinha era simples, simpática e conversadora. Logo angariou o respeito e simpatia de todos com quem se relacionava.
Dos com quem se relacionava...
Um belo dia, na sala dos professores, alguém lhe perguntou: -" E com todo este cabedal, como é que você veio parar na nossa escolinha ?
Respondeu com sua proverbial simplicidade:
-“Eu não arranjava trabalho!”