Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Os caubóis que não gostam de cavalos...

Escrevendo sobre engenheiros, lembrei-me do pai, apesar de muito bom na profissão, em relação aos detalhes da atividade mostrava certas características hoje reputo normais aos humanos. Boa parte deles, na área mecânica, mantém contato com o aço, devem tocá-lo, manipulá-lo, conhecê-lo.

Pois o homem tinha horror a isto, é só num momento de raro compartilhamento de algum desconforto tal me confidenciou. Que se arrepiava todo somente em pensar tocar a superfície de uma chapa de aço carbono comum, não pintada, levemente enferrujada. Sem restrição ao aço inoxidável, ao alumínio. Mas ao básico da construção mecânica, o simples aço, sem conversa.

Com isto andava com as mãos ao bolso pela fábrica, ou ao se aproximar de alguma máquina ainda sem pintura cerrava-as pelas costas.

Curiosamente, quando o filho o seguia a pedido, para “conhecer e aprender”, furioso ao ver imitado também com as mãos nos bolsos, ordenava andar com elas à mostra, “para não parecer ao trabalhador que você está na folga”... Hm.

Um amigo, também engenheiro, mas em outra área, a civil, confidenciou-me nunca se encantou com os imensos cálculos estruturais, os tijolos, as tabelas de concreto e o cheiro de úmidas obras. E, semanas após a formatura, decidiu-se pela vida como homus graphicus, a ser um destes sujeitos formidáveis fazem dos nossos impressos, das nossas páginas de internet e outros meios aquilo que dizemos: muito bom!

E, sem alarde, grande pintor, dos que mais cultuamos aqui em casa. Sua obra sempre me agradou, há quadros e aquarelas suas por cá, posso ficar horas fitando.

Carlos Guena.

Discretíssimo, pouco divulga sua arte.

Em tempo, ao aportar por cá em 1951, meu já falecido pai, em domingos sem muito que fazer, divertia-se com pinturas a óleo; e com a precisão do engenheiro mostrou-se razoável paisagista. Um tanto sóbrio demais, austero talvez como suas origens do frio norte alemão. Entretanto parecia mais próximo e à vontade do cheiro de tintas e terebentina do que chapas de aço carbono...

Somos assim, nós engenheiros.

1 Sempre desejei este nu, em certo momento convenci Carlos Guena a mo vender. Por aqui há mais de 10 anos, sempre me reencanto em olhar.

2 A cadeira misteriosa, em sombras. Por imaginar ser coisa da qual o artista jamais se desfaz (e o discurso era este), nunca insisti. Em meus 40 anos por cá aportou, como presente. O que dizer?

Comentários (clique para comentar)

Lucia Borbely - 25/06/2010 (16:06)

Muito legal....Merecidamente para alguem especial como o Guena.

Carlos - 11/06/2010 (08:06)

Obrigado pela lembrança. Confesso que fiquei emocionado ao ver minhas pinturas divulgadas nesse site tão interessante e cheio de idéias. Carlos Fajardo, meu chará e grande artista plástico paulistano, dizia que uma vez infectado pelo mosquito da Arte, jamais conseguimos nos curar... Cuidado!