Bahia violentíssima, o quadro assustador.
Por Cândido Moura de Albuquerque Schwartz, de Salvador
O secretário de Segurança Pública da Bahia, César Nunes, em entrevista concedida a um blog baiano ontem (31/05), conseguiu deixar mais dúvidas do que certezas sobre a explosão da violência no estado. Valendo-se de argumentação confusa, em algumas partes, e contraditórias, em outras, deixou a desejar ao apresentar as causas do aumento descontrolado dos índices de homicídios observados tanto em Salvador quanto no interior da Bahia. Simplificou tão complexa questão e frustrou. Mais uma vez, com escapismo covarde, culpou o crack por 80% dos casos de violência na Bahia. Ora, essa droga não é invenção de agora. Depois, apontou a “exclusão de antes” como indutora da busca pelo entorpecente. Mas a pobreza também sempre esteve por aí.
Mantendo-se no rumo da incoerência, garantiu que essa explicação era partilhada por todos os secretários de segurança pública do País. Mas, o escudo do secretário furou. Na Bahia, sabe-se que menos de 20% dos casos de homicídio são elucidados. Como, então, ele pôde comparar tão singular realidade com a do restante do Brasil? Isso é irresponsabilidade.
E tem mais: os dados de um levantamento do Instituto Sangari mostram que, nos últimos 10 anos, a violência recuou 2% no País inteiro, sendo que o Rio conseguiu reduzir, entre 2003 e 2009, em 22,3% a sua taxa. São Paulo teve retração de 38,8% no mesmo período. Salvador contrariou furiosamente essa tendência, apresentando crescimento de 64%, colocando a primeira capital do Brasil em evidência nacional, superando o número de homicídios por 100 mil habitantes do Rio e de São Paulo.
Em que matemática do diabo o secretário se baseia, então, para afirmar que, em 2009, a Bahia já mostra sinais de que está conseguindo entrar nos trilhos nacionais de controle da violência? Ele mesmo apresenta os dados. Em Salvador, 2.210 pessoas foram assassinadas em 2008, e, em 2009, houve uma redução de 2%, com 2.192 homicídios. Em 2008, no interior da Bahia, 2.278 pessoas foram mortas. O número saltou para 2.604 no ano seguinte. Isso significa um aumento de 15%. O único fato que mostram esses dados é que a violência só não avança mais em Salvador e Região Metropolitana por falta de espaço, daí a necessidade de espraiar-se pelo interior do estado.
Voltando à questão do crack, afirma o secretário César Nunes que os jovens envolvidos com o tráfico, hoje, se encaixam na faixa etária de 15 a 24 anos. E, com grande autoridade, emenda: “isso é decorrente de quê? Da falta de oportunidade que estes jovens tiveram”. Bom, o presidente da República Lula, que pertence ao partido do secretário, já está no poder por quase uma década. Então, o que representa a “exclusão de antes” para um jovem que hoje tem 15 anos? Ele já foi criado dentro das mais novas e justas bases de inclusão proporcionadas pelo PT.
Logo, das duas, uma. Ou ele inconscientemente assumiu uma postura fatalista, reconhecendo a ineficiência das iniciativas sociais de Lula, ou acredita que esses tantos benefícios estão sendo utilizados para encorajar os jovens a ingressar no tráfico. Sobra ainda outra via, mais obscura, que é a possibilidade desses jovens estarem utilizando tais recursos, amplamente distribuídos aos miseráveis de antes, para comprar o crack. Seria o Bolsa Família, na verdade, o Bolsa Crack? Um programa de inclusão típico de um Brasil que fecha acordo de cooperação com o Irã.
Talvez, a insistência de César Nunes em culpar o crack pela indução da população baiana à violência, respondendo por 80% dos casos, seja porque o secretário guarde semelhanças com o entorpecente. É barato e provoca alucinações.