Foto do Hermógenes

Espaço de reflexão Hermógenes de Castro e Mello

Elucubrações franciscanas, um tanto tristes.

Por Ludwig von Albarus, de São Paulo

Protagonistas: DEF, terceiranista de direito, descendente de importantes troncos da antiga São Paulo, herdeiro de respeitável patrimônio negocial.

ABC, professor emérito, lente catedrático, de um importante ramo do direito junto às tradicionais Arcadas, negro.

Local: aula normal do curso de graduação pelos idos de 1965.

Flui normalmente a aula e interrompe DEF com uma pergunta, até compatível com o tema em causa.

O professor, tomado por algum inexplicável acesso de raiva pela interrupção, dirige-se ao aluno:

- "Como ousa me interromper para ventilar tal besteira?".

E, descontrolado, foi adiante com as ofensas: -"Senhor é um imbecil, um cérebro de batráquio, recorda feto de abacate!"

Incompreensível o desmazelo do lente e o palavreado chulo expelido, alguma inexplicável raiva.

DEF humilhadíssimo pediu licença e saiu da classe.

Convém acrescentar que era dos poucos filhinhos-de-papai que possuía um automóvel, coisa rara àquela época. Um belíssimo Pontiac 61, verde e bege. DEF entra no carro e sorrateiramente espera o término das aulas.

Eis que surge o destemperado professor, possuidor de um Cadillac do ano, estacionado em frente à Escola do Commércio Alvares Penteado. Irritado, por destes motivos pelo que a alma padece, acomoda-se em seu portentoso bólido. Ao concluir a manobra para ir embora, eis que não imagina o que o espera...

DEF, na espreita, à direção de seu Pontiac acelera furiosamente e abalroa a lateral esquerda do Cadillac. Então desce calmamente e dirige-se ao professor, este lívido pelo susto:

- "Queira desculpar, cavalheiro, a culpa foi minha", destacou o aluno. E ato contínuo sacou de um cartão de visitas e jogou ao colo do mestre dizendo:

- "Peça a seu patrão me contatar... tenho certeza que nos entenderemos, civilizadamente...".

Triste história. Destempero, racismo, será que superaremos algum dia?

1 O palco do embate incompreensível entre o mestre raivoso e o vingativo aluno filhinho-de-papai, com tristes conotações racistas.

Comentários (clique para comentar)

LUDWIG VON ALBARUS - 02/06/2010 (10:06)

O COLEGA DO PONTIAC, LONGE DE SER FILHINHO DE PAPAI . ERA RICO. É DIFERENTE.