Os xiitas - Um pouco de história e idealismo
Por Euclides Neto, de Ipiaú, Bahia *
O xiita do PT nada mais é que um idealista exagerado. No fundo é um puro de espírito. Uma espécie de lâmpada que virou maçarico, podendo até queimar, mas teve utilidade - ajudou a consolidar o partido, dando-lhe um perfil definido, antigelatina, capaz de enfrentar tantas discriminações.
Melhor seria que não houvesse o xiita, que é também um revoltado contra a injustiça social, levado ao sectarismo. A convivência com ele não é impossível, desde que se mostre lealdade e correção.
Impossível é conviver com o xiita do Riocentro, da corrupção, do levar o sangue e o suor dos brasileiros em forma de dólares para os bancos suíços.
Pegue-os e compare-os. O xiita petista é ideológico, quer a coisa por cima de pedra e toco, a verdade é só a que se incrusta em sua cabeça. Defende, contudo, as classes magras. O xiita da corrupção, do chamado capital selvagem, é o que gera essas classes, suga o Estado, corrompe-o, não tem compromisso ético. Causa todo esse mal financeiro e social do país. E ainda se acha a elite, o capaz, o descendente do rei. Defende os seus apetites.
Fala-se de Lula como se ele fosse um irresponsável, usurpador dos direitos da nobreza. Tudo porque saiu do agreste nordestino. Retirante! Com pouca escolaridade chegou aonde chegou. Inegavelmente é uma personalidade notável. Tem dotes superiores de inteligência. É julgado e seguido por intelectuais altamente qualificados, que não se deixariam liderar por um inepto. Defendido pelos religiosos cristãos. Será que tantos padres, bispos, pastores, freiras, moldados na lei do perdão, na filosofia que varou dois milênios, domando o homem com o Sermão da Montanha, será que todos buscam o pior, só porque optaram pelos pobres?
A cultura de Lula tem que ser avalizada por outra esquina. Está no que muito viu. Viveu e sofreu. Quem gozou sempre as delícias da riqueza, é um analfabeto de pai e mãe das necessidades do povão. O nordestino do eito, sendo torneiro, foi capaz de dar o bom combate ao partido da mídia alienada. Poderosíssima. Daí a inveja, o despeito, o rancor. Não é um destrambelhado. Ao contrário: sabe escolher os seus assessores. É ridículo exigir dele os pronomes e a sintaxe no encastoado dos sonetos parnasianos que nestes anos de Sarney rimaram com fome e miséria. A sabedoria do seu torno mecânico não é universitária, mas o seu ilustrado concorrente não é capaz, sequer, de pô-Io em funcionamento, apesar dos 60.000 volumes da biblioteca familiar, que não significam cromossomos. Esse elitismo de mestrados não resolve as nossas equações. Do que adianta saber conjugar os verbos irregulares se não conhece o indicativo do verbo amar.
O meio de preservar a paz social no Brasil é a vitória de Lula, que tem confiabilidade para discutir de igual para igual com os trabalhadores, demonstrando-Ihes que a nossa situação é desastrosa e que não seenche panela vazia em um passe de mágica.
O outro candidato é o farisaísmo. Capaz de aproveitar-se de um pobre ancião, de 91 anos, levá-lo carregado nos braços à celebração de uma missa, explorando a crendice dos inocentes, e, depois, voar com ele de helicóptero como se estivesse subindo aos céus da salvação. Cena safada! Esconde os próprios aliançados. E o imã atraindo as limalhas de ferro do que de pior existiu nesses tempos destemperados, salvando-se os equivocados de boa fé. Não pode mostrar todos os comparsas nas luzes da ribalta, efetuando o conúbio nas sombras dos camarins. E os comparsas aceitam até a desmoralização da aparente recusa, admitindo que a política carece desses lances hipocritas, contanto que viabilize a vitória espúria.
Lula tem uma história ao lado dos trabalhadores, com sua origem, sua vida, suas prisões, seu torno, e não vai traí-los agora. Jamais o perigo de violência está com ele que, inclusive tem competência de, se for o caso, frear o que chamam de xiitas. E já entenderam que é preciso ter a maioria no Congresso e unir as classes sociais, levando-as ao diálogo, criando a grande síntese, integrando o trabalho e o capital dentro da tendência do mundo atual.
Quem fala em sangue são os mesmos que o derramaram da maneira mais vil - a tortura. São os que socam até o ar nos comícios, transferindo a imagem da violência. Não o trabalhador que já não tem mais sangue e suor para derramar.
29.11.89
* Euclides Neto, falecido em 2000, autor de vários livros, prefeito de Ipiaú e secretário da reforma agrária em 1986-1989 era sem dúvida um entusiasta de Lula, sem porém ser membro do partido. Teria certamente regojizado com a vitória deste em 2002, com direito a reeleição. O destino não permitiu.